A caridade na Igreja, comunidade de amor

Bento XVI, nas passagens a seguir da Deus caritas est (DCE 19-25), explicita como o dever da caridade, e a consequente ajuda ao irmão em necessidade, é constitutivo da vida da Igreja.

“Se vês a caridade, vês a Trindade — escrevia Santo Agostinho (De Trinitate, VIII, 8, 12) […] Toda a atividade da Igreja é manifestação de um amor que procura o bem integral do homem: procura a sua evangelização por meio da Palavra e dos sacramentos, empreendimento este muitas vezes heroico nas suas realizações históricas; e procura a sua promoção nos vários âmbitos da vida e da atividade humana. Portanto, é amor o serviço que a Igreja exerce para acorrer constantemente aos sofrimentos e às necessidades, mesmo materiais, dos homens. É sobre este aspecto, sobre este serviço da caridade […]

O amor ao próximo, radicado no amor de Deus, é um dever antes de tudo para cada um dos fiéis, mas também é um dever para a comunidade eclesial inteira, e isto a todos os seus níveis: desde a comunidade local, passando pela Igreja particular até a Igreja universal na sua globalidade. A Igreja também como comunidade deve praticar o amor […] A Igreja não pode descurar o serviço da caridade, tal como não pode negligenciar os sacra- mentos nem a Palavra […]

A natureza íntima da Igreja exprime-se num tríplice dever: anúncio da Palavra de Deus (kerygma-martyria), celebração dos Sacramentos (leiturgia), serviço da caridade (diakonia). São deveres que se reclamam mutuamente, não podendo um ser separado dos outros. Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia mesmo deixar a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência.

A Igreja é a família de Deus no mundo. Nesta família, não deve haver ninguém que sofra por falta do necessário. Ao mesmo tempo, porém, a caritas-agape estende-se para além das fronteiras da Igreja; a parábola do bom samaritano permanece como critério de medida, impondo a universalidade do amor que se inclina para o necessitado encontrado ‘por acaso’ (cf. Lc 10, 31), seja ele quem for. Mas, ressalvada esta universalidade do mandamento do amor, existe também uma exigência especificamente eclesial — precisamente a exigência de que, na própria Igreja como família, nenhum membro sofra porque passa necessidade. Nesse sentido se pronuncia a carta aos Gálatas: ‘Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos, mas principalmente para com os irmãos na fé’ (6, 10)”.

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