“A igualdade fundamental entre todos os homens deve ser cada vez mais reconhecida, uma vez que, dotados de alma racional e criados à imagem de Deus, todos têm a mesma natureza e origem; e, remidos por Cristo, todos têm a mesma vocação e destino divinos. Sem dúvida, os homens não são todos iguais, mas deve superar-se e eliminar-se, como contrária à vontade de Deus, qualquer forma social ou cultural de discriminação quanto aos direitos fundamentais da pessoa, por razão do sexo, raça, cor, condição social, língua ou religião” (Gaudium et spes, GS 29]
A doutrina cristã [sobre a dignidade de todas as raças e da unidade do gênero humano] tem, de fato, graves consequências morais, que podem ser resumidas em três palavras-chave: respeito pelas diferenças, fraternidade, solidariedade. […] Nenhum grupo humano pode se gabar de possuir uma superioridade da natureza sobre os outros (cf. Pacem in terris, PT 89) nem exercer qualquer discriminação que afete os direitos fundamentais da pessoa.
No entanto, o respeito mútuo não é suficiente; é preciso estabelecer uma fraternidade. O dinamismo necessário para tal fraternidade não é outro senão a caridade, que também está no centro da mensagem cristã: “Todo homem é meu irmão”[Jornada Mundial da Paz, 1971]. A caridade não é um simples sentimento de benevolência ou piedade; orienta-se antes para que cada um se beneficie efetivamente daquelas condições dignas de vida que lhe correspondem por justiça, para a sua subsistência, a sua liberdade e o seu desenvolvimento em todos os aspectos. Ela faz com que cada homem e cada mulher vejam o outro ser como um, em Cristo, de acordo com o preceito divino: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
O reconhecimento da fraternidade não é suficiente. Trata-se de ir até a solidariedade ativa com todos, especialmente entre ricos e pobres. A encíclica de São João Paulo II, Sollicitudo rei socialis (SRS) insiste sobre o fato da interdependência, “percebida como um sistema determinante de relações no mundo de hoje… e assumida como uma categoria moral. Quando a interdependência é assim reconhecida, a sua resposta correspondente, como atitude moral e social, e como ‘virtude’, é a solidariedade […] Opus solidaritatis pax, a paz como fruto da solidariedade” (SRS 38-39).
* PONTIFICIA COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ. A Igreja diante do racismo. por uma sociedade mais fraterna. Roma, 1988.