Durante mais uma Campanha da Fraternidade, ressurge o discurso de que ela desvia a Igreja de sua missão. Esse discurso, porém, nada tem de católico, e isso deve ser ainda mais lembrado no décimo aniversário do pontificado de Francisco. O Magistério da Igreja nega a ideia de que sua missão se restringe às almas e que falar dos males sociais a desvia de seu caminho. O Compêndio da Doutrina Social da Igreja (CDSI), publicado no pontificado de São João Paulo II, pôs fim a esse tipo de discussão
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“A Igreja, com a sua Doutrina Social, não só não se afasta da própria missão, mas lhe é rigorosamente fiel. A redenção realizada por Cristo e confiada à sua missão salvífica é certamente de ordem sobrenatural. [Mas…] O sobrenatural não deve ser concebido como uma entidade ou um espaço que começa onde termina o natural, mas como uma elevação deste, de modo que nada da ordem da criação e do humano é alheio ou excluído da ordem sobrenatural e teologal da fé e da graça” (CDSI 64).
“O homem todo — não uma alma separada ou um ser encerrado na sua individualidade, mas a pessoa e a sociedade das pessoas — fica implicado na economia salvífica do Evangelho. Portadora da mensagem de Encarnação e de Redenção do Evangelho, a Igreja não pode percorrer outra via: com a sua Doutrina Social e com a ação eficaz que ela ativa, não somente não falseia o seu rosto e a sua missão, mas é fiel a Cristo e se revela aos homens como ‘sacramento universal da salvação’“ (CDSI 65).
A Doutrina Social “é Magistério autêntico, que exige a aceitação e a adesão por parte dos fiéis”, ainda que “o peso doutrinal dos vários ensinamentos e o assentimento que requerem devem ser ponderados em função da sua natureza, do seu grau de independência em relação a elementos contingentes e variáveis, e da frequência com que são reafirmados” (CDSI 80).
Uma anedota conta que, ao ver a imagem de Nossa Senhora do Equilíbrio, São Paulo VI teria dito: “É disso que o mundo precisa”. Também São Tomás de Aquino afirmou que a virtude está no meio, ou seja, no equilíbrio. Somente com essa virtude é possível entender o Evangelho de Cristo e a Doutrina da Igreja. O mesmo Jesus que vinculou a salvação à obrigação de cuidar dos marginalizados, pobres e excluídos (Mt 25,31-47) disse que não só de pão vive o homem (Mt 4,4). Uma leitura parcial, somada ao extremismo, às ideologias e fanatismos da sociedade, produzem confusão. A solução? O equilíbrio.
Por Júlio César de Paula Ribeiro, Psicólogo, mestrando em Ciências Sociais (UERJ), membro do movimento Comunhão Popular, colabora na página Apostolado Ratzinger – Caritas In Veritate.