São Paulo VI, em sua mensagem para o primeiro Dia Mundial da Paz*, da qual publicamos trechos abaixo, nos fala da universalidade da aspiração pela paz e da contribuição específica dos cristãos para a construção dessa paz.
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Dirigimo-nos a todos os homens de boa vontade, para os exortar a celebrar o “Dia da Paz”, em todo o mundo, no primeiro dia do ano […] Nós pensamos que esta proposta interpreta as aspirações dos povos, dos seus governantes e das entidades internacionais que intentam conservar a paz no mundo; das instituições religiosas, tão interessadas na promoção da paz; dos movimentos culturais, políticos e sociais que fazem da paz o seu ideal; da juventude, em quem mais vivas estão as perspectivas de caminhos novos de civilização, necessariamente orientados para um seu pacifico desenvolvimento; dos homens prudentes que veem quanto a paz é necessária e, ao mesmo tempo, quanto ela se acha ameaçada.
A proposta de dedicar à paz o primeiro dia do novo ano não tem a pretensão de ser qualificada como exclusivamente nossa, religiosa ou católica. Antes, desejamos que ela encontre a adesão de todos os verdadeiros amigos da paz, como se se tratasse de uma iniciativa sua própria.
[…Se] nossa doutrina repete tão frequentemente considerações e exortações acerca do tema da paz; não o fazemos cedendo a um hábito fácil ou para explorar um argumento de grande atualidade. Fazemo-lo sim, porque julgamos que isso nos é exigido pelo nosso dever […] A paz é a única e a verdadeira linha do progresso humano […] Não são as tensões de nacionalismos ambiciosos, nem as conquistas violentas, nem as repressões que estabelecem uma falsa ordem civil.
[…] A paz está no centro do espírito da religião cristã, uma vez que, para o cristão, proclamar a paz é anunciar Jesus Cristo, “Ele é a nossa paz” (Ef 2,14); o Seu Evangelho é “Evangelho de paz” (Ef 6,15) mediante o Seu sacrifício na Cruz, Ele levou a termo a reconciliação universal, e nós, seus seguidores, somos chamados a ser “obreiros da paz” (Mt 6,9); e finalmente, só do Evangelho pode brotar a paz, não para tornar os homens fracos e moles, mas para substituir nas suas almas os impulsos da violência e da prepotência, pelas virtudes viris da razão e do coração de um humanismo verdadeiro […] Não quereríamos que nos seja lançado no rosto, por Deus e pela história, que nos calamos, diante do perigo de uma nova conflagração entre os povos, a qual, como todos sabem, poderia assumir formas imprevistas de terribilidade apocalíptica.
[…] Nós que cremos no Evangelho, podemos enriquecer esta celebração com um maravilhoso tesouro de ideias originais e potentes: como a da intangível e universal fraternidade de todo os homens, a qual deriva da única, soberana e amabilíssima Paternidade de Deus; e provém da comunhão que, in re (de fato) ou in spe (em esperança), a todos nos une em Cristo; e promana também da vocação profética, que no Espírito Santo chama o gênero humano à unidade, não só de consciência, mas também de obras e destinos. Nós podemos ainda, como ninguém, falar do amor ao próximo. Nós podemos ir buscar nos preceitos evangélicos do perdão e da misericórdia fermentos regeneradores da sociedade […] Podemos sobretudo dispor de uma arma singular, em favor da paz: é a oração, com as suas maravilhosas energias de tonificação moral e de impetração de transcendentes fatores divinos de inovações espirituais e políticas e com a possibilidade que ela oferece a cada um, de se interrogar a si mesmo, com sinceridade, acerca das raízes do rancor e da violência, que podem eventualmente encontrar-se no coração de cada um de nós.
[…] É isto o que por agora vos pedimos; não falte a voz de ninguém, no grande coro da Igreja e do mundo; que pede a Cristo, por nós imolado, dona nobis pacem (dai-nos a paz).
SÃO PAULO VI. Mensagem para a celebração do I Dia Mundial da Paz, 1 de janeiro de 1968. Vaticano, 8 de dezembro de 1967.