Num momento em que somos tentados a reduzir a política à escolha de algum iluminado que possa resolver os grandes problemas do País, a compreendê-la como um espaço de confronto, de discursos enganadores, e não de diálogo e descoberta de soluções compartilhadas, podemos nos perguntar: É possível surgir algo novo na cena política? De onde pode nascer uma novidade que penetre o núcleo das relações sociais e econômicas, alcançando a dimensão política? Em busca de respostas a estas questões, o 10º Fórum da Companhia das Obras (CdO Brasil) reuniu-se nos dias 1º e 2 de julho em São Paulo sob o tema “Na política, o protagonista é o Eu”, com participantes de todo o País e convidados internacionais do setor produtivo, de obras sociais e do mundo acadêmico.
Com o objetivo de enfrentar os desafios culturais e socioeconômicos numa perspectiva plenamente humana, com ferramentas inovadoras, a CdO é uma associação que reúne empresários, organizações sem fins lucrativos, gestores e profissionais que buscam o desenvolvimento, tendo como referencial a Doutrina Social da Igreja.
O encontro foi pautado por exemplos vivos de como uma pessoa transformada se torna protagonista e começa a mudar o mundo ao seu redor. Esse protagonismo não nasce de uma estratégia de ação: surge da alegria de existir, motivada por um encontro excepcional, que desperta a consciência do próprio valor, lançando a pessoa com entusiasmo nas circunstâncias cotidianas.
Há, portanto, outra forma de compreender e atuar na política. É uma forma concreta de estar presente na sociedade, estabelecer relações, trabalhar e atuar politicamente, dando origem a obras que oferecem uma contribuição social cujo alcance vai muito além da política institucional e do jogo partidário. Enfrentar as dificuldades do mundo do trabalho em qualquer setor (saúde, educação, tecnologia etc.), substituindo a lógica do poder pela lógica da construção de uma comunidade solidária, é uma forma consistente de atuação política, pois dá origem a uma cultura nova, um modo original de estar presente na sociedade. Esse processo tem início na pessoa e alcança todos os âmbitos da vida, gerando um tecido de relações sociais, econômicas, culturais, que tendem a adquirir formas institucionais.
Partindo das circunstâncias concretas da vida, as iniciativas sociais propõem soluções, oferecem ideias e modelos para a elaboração de políticas públicas. Desta forma, o trabalho torna-se uma contribuição para a política institucional, como podemos constatar na aprovação de leis de regulamentação urbana no interior de São Paulo (caso do movimento de habitação da ATST), ou na definição de políticas públicas para a saúde, cuja metodologia de atendimento, partindo das necessidades reais das crianças inseridas em suas famílias, passou a ser adotada em parceria com órgãos públicos e privados em vários estados do Brasil, caso de projetos da Secretaria de Saúde de Belo Horizonte (MG).
A novidade capaz de modificar a sociedade, portanto, não nasce de projetos políticos bem elaborados, de estratégias exitosas de superação de conflitos ou da imposição do poder. A nova política nasce de pessoas que se tornam protagonistas, que redescobrem seu rosto humano, seu coração inquieto, que é sede de sentido e realização, e vão ao encontro de outros corações igualmente sedentos, dialogando e construindo o bem comum com laços sólidos. Esta é a nova política, feita pelo testemunho de pessoas e lugares que já vivem uma vida transformada, pois só um homem livre pode construir a liberdade.
Marli Pirozelli N. Silva, historiadora com mestrado em Filosofia da Educação, é professora universitária de Doutrina Social da Igreja.