Leão XIII foi um pontífice que rompeu com a postura defensiva da Igreja de seu tempo, buscando um engajamento ativo e construtivo com os desafios modernos, deixando um legado que continua a influenciar o pensamento católico e sua relação com o mundo
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O longo pontificado de Leão XIII (25 anos, de 1878 a 1903), marcou um ponto de virada na forma como a Igreja Católica se relacionava com a modernidade. Em vez de vê-la como inerentemente hostil à fé, procurou identificar o que era valioso nos desenvolvimentos contemporâneos, mantendo os princípios católicos centrais. Suas inúmeras encíclicas abordaram tópicos que vão desde estudos bíblicos até a teoria política, sempre com foco no engajamento construtivo, e não na mera condenação.
A retomada tomista e a ciência. Ainda que seu legado mais conhecido seja a encíclica Rerum Novarum (1891), Leão XIII demonstrou notável coragem intelectual ao se engajar com os desenvolvimentos filosóficos e científicos contemporâneos. Sua encíclica Aeterni Patris (1879) repropôs o diálogo entre a fé e a razão, condenando o racionalismo, que nega a fé, e o fideísmo, que nega a razão, além de valorizar o tomismo, não como retorno ao pensamento medieval, mas como caminho para a reflexão católica moderna.
Com isso, abriu espaço para o diálogo com a ciência moderna, a filosofia e a teoria social. Incentivou o estudo da astronomia, das ciências naturais e da crítica histórica, recriou o Observatório Astronômico do Vaticano e abriu os Arquivos Secretos da Santa Sé para pesquisadores. Em sua encíclica Providentissimus Deus (1893), reviu o estudo das Sagradas Escrituras, reconhecendo a contribuição dos estudos científicos e dos métodos críticos, ainda que preservando o caráter revelado dos textos bíblicos.
Leão XIII demonstrou também uma notável abertura às novas tecnologias. Foi o primeiro papa a ser oficialmente fotografado e filmado, pois viu na fotografia uma oportunidade de aproximar a figura do pontífice dos fiéis, tornando a Igreja mais visível em um mundo em rápida mudança. Além disso, acolheu outras inovações, como a eletricidade, que instalou no Vaticano, e o uso do telégrafo nas comunicações da Santa Sé.
Um novo papel para o papado no mundo. Sua abertura intelectual estendeu-se ao contexto internacional. Trabalhou ativamente tanto para melhorar o relacionamento entre a Igreja Católica e vários governos europeus quanto para expandir o alcance global da Igreja, estabelecendo novas dioceses em regiões em desenvolvimento, e mostrando particular preocupação com a missão da Igreja na África, Ásia e Américas.
