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Como as grandes cidades brasileiras se tornam mais inclusivas para as famílias

Cidades mais ricas e com mais recursos tendem a oferecer melhores condições de vida para as famílias, mas a relação não é tão direta como se pode imaginar. O Índice de Progresso Social (IPS)* mostra que outras variáveis são fundamentais para melhorar a qualidade de vida para as famílias. Uma análise das dez grandes cidades brasileiras com maior IPS mostra a importância de outros fatores.

O planejamento urbano pensado para as pessoas faz diferença real. Em Curitiba (PR), líder com IPS de 69,89, o sistema de transporte criado nos anos 1970 significa menos tempo em deslocamentos e mais tempo com a família. As áreas verdes são parques nos quais crianças brincam com segurança e famílias se reúnem. Belo Horizonte (MG) oferece ruas arejadas que tornam a vida urbana menos estressante.

O saneamento básico universal representa saúde para as famílias. Quando a Sanepar garante 100% de água tratada em Curitiba e alto índice de coleta de esgoto, menos crianças faltam à escola por diarreia, menos adultos perdem trabalho por doenças evitáveis, menos famílias gastam economias com remédios e internações. Essa infraestrutura protege gerações inteiras.

A estabilidade econômica traduz-se em segurança familiar. Brasília (IPS 69,04), com economia concentrada em setores resilientes (44,7% em Administração Pública e Educação), oferece empregos estáveis, salários regulares, capacidade de planejar o futuro. Isso permite que pais invistam na educação dos filhos e construam patrimônio.

O ambiente saudável melhora a vida imediatamente. Em Campo Grande (MS, IPS 69,63), segunda colocada, famílias respiram ar limpo e vivem em uma cidade que preservou os recursos naturais. Parques bem cuidados significam menos doenças respiratórias e mais espaços de lazer gratuitos.

A educação acessível abre portas para as próximas gerações. Florianópolis (SC, IPS 67,91), polo de tecnologia e inovação, deve parte de seu elevado índice ao fato de ter a maior porcentagem de adultos com formação universitária.

Porém, o sucesso exige equilíbrio. São Paulo (SP, IPS 68,88) e Rio de Janeiro (RJ, IPS 66,13), apesar da riqueza, sofrem com violência que assombra famílias diariamente. Cidade alguma prospera quando suas famílias não se sentem seguras.

O verdadeiro progresso mede-se nas cozinhas, salas e quartos das famílias brasileiras: onde há água limpa, transporte digno, escolas funcionais, empregos estáveis e ruas seguras para as crianças brincarem.

*O IPS, criado por Social Progress Imperative, estima o desenvolvimento social independentemente de indicadores econômicos. A metodologia avalia três dimensões com mais de 50 indicadores: 

Necessidades Humanas Básicas: avalia acesso a nutrição e atendimento médico, água potável e saneamento, moradia digna e proteção contra violência. 

Fundamentos do Bem-Estar: mede educação fundamental, tecnologias de informação, saúde e expectativa de vida, além de preservação ambiental. 

Oportunidades: analisa direitos civis, liberdade pessoal, ausência de discriminação e acesso ao ensino superior. 

Uma limitação do IPS é trabalhar com valores médios para cada local. Assim, a realidade das áreas mais pobres dentro de uma grande cidade fica oculta na análise global.

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