Contribuição dos cristãos para a promoção, com outros, da fraternidade e da solidariedade entre as raças*

O preconceito racista, que nega a igual dignidade de todos os membros da família humana e blasfema contra o seu Criador, só pode ser combatido onde nasce, isto é, no coração humano. Os comportamentos justos ou injustos brotam do coração (cf. Mc 7, 21-23), conforme o homem se abra à vontade de Deus, na ordem natural e na sua Palavra viva, ou se feche em si mesmo e no seu egoísmo, ditados pelo medo ou pelo instinto de dominação. É a visão do outro que deve ser purificada nesse caminho.

Arte: Sérgio Ricciuto Conte

O trabalho de conscientização da Igreja será realizado também por meio do testemunho de vida dos cristãos: respeito pelos estrangeiros, acolhimento do diálogo, participação, ajuda fraterna e colaboração com outras etnias. O mundo precisa que os cristãos demonstrem essa “parábola em ação”, a fim de ser convencido pela mensagem de Cristo. Certamente os próprios cristãos devem confessar humildemente que os membros da Igreja, em todos os níveis, nem sempre tiveram uma conduta consistente, nesse ponto, no curso da história. No entanto, devem continuar a anunciar o que é justo, esforçando-se ao mesmo tempo por “realizar” a verdade (cf. Jo 3, 21).

Não basta expor a doutrina e propor um exemplo. Também é preciso assumir a defesa das vítimas de racismo onde quer que estejam. Atos de discriminação entre homens e povos, por motivos racistas, ou por outros motivos, sejam eles religiosos, sejam ideológicos, mas que levem a uma atitude de desprezo ou exclusão, devem ser severa e vigorosamente condenados, a fim de provocar comportamentos, disposições legais e estruturas sociais equitativas.

Muitos se tornaram mais sensíveis a essa injustiça e estão empenhados na luta contra todas as formas de racismo. Quer o façam por convicção religiosa, quer por razões humanitárias, às vezes são forçados a desafiar a repressão de certos poderes, ou pelo menos a pressão de uma opinião pública sectária, e enfrentam perseguições e prisões. Os cristãos não hesitem em assumir o seu próprio lugar nesta luta pela dignidade dos seus irmãos, com o necessário discernimento e privilegiando sempre os meios não violentos (Libertatis conscientia, LC 78-79)

A Igreja, em sua denúncia do racismo, procura manter uma atitude evangélica para com todos. Esta é a sua originalidade. Se ela não tem medo de analisar com lucidez as causas do racismo e expressar sua desaprovação, mesmo diante dos responsáveis, ela também tenta entender como esses extremos podem ter sido alcançados e gostaria de ajudar a encontrar uma saída razoável para o problema. beco em que os responsáveis se encontraram. Como Deus, que não se alegra com a morte do pecador (cf. Ez 18, 32), a Igreja espera antes pela sua reconciliação, se ele consentir em reparar as injustiças cometidas. Ela também se preocupa em evitar que as vítimas recorram à luta violenta e acabem caindo em um racismo semelhante ao que rejeitam. Ela quer oferecer um espaço de reconciliação e não acentuar as oposições. Exorta a agir de tal maneira que o ódio seja excluído. Pregai o amor e preparai pacientemente uma mudança de mentalidade, sem a qual seria inútil uma mudança de estruturas.

* PONTIFICIA COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ. A Igreja diante do racismo. por uma sociedade mais fraterna. Roma, 1988.

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