Ao longo de toda a história, a humanidade conviveu com os mais variados tipos de obstáculos. A nossa evolução, porém, mostra força e capacidade de sobrevivência como seres humanos e permitiu que todos vivêssemos mais e melhor. Por mais que enxerguemos problemas, não podemos deixar de admitir que conquistamos muitos avanços, principalmente científicos. No entanto, ainda não podemos dizer que conquistamos a convivência em uma sociedade justa. O nosso avanço em diversos campos ainda não nos permitiu o amadurecimento social, não conseguimos eliminar as nossas desigualdades em suas mais variadas formas de expressão. Buscando superar essa situação, a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015, adotou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), como um apelo universal à ação para acabar com a pobreza, proteger o planeta e garantir que até 2030 todas as pessoas desfrutem de paz e prosperidade. Contudo, como resumido no livro Sustainable Development Goals and the Catholic Church: Catholic Social Teaching and the UN’s Agenda 2030 (Abingdon, Inglaterra: Routledge, 2020), a Igreja Católica mesmo antes de 2015 já se manifestava sobre a temática.
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A Agenda 2030 é um mapa de estratégico com os 17 objetivos e 169 metas buscando a identificação e a superação de desafios comuns a toda população mundial. Assim, refletir e, principalmente, agir sobre essa Agenda é uma obrigação de todos. Entre os objetivos estabelecidos é importante discutirmos, particularmente, o ODS número 10 – Redução das Desigualdades. Esse ODS tem a intenção de reduzir a desigualdade nos países e entre eles.
Destaca-se entre as metas estabelecidas a 10.2: “Até 2030, empoderar e promover a inclusão social, econômica e política de todos, independentemente da idade, gênero, deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou outra.”
O retrato mais amplo da desigualdade no mundo é o da condição econômica. No caso brasileiro, devemos lembrar que moramos num país que está no mesmo grupo de Lesoto, Botsuana, Moçambique e África do Sul, aquele dos países com os maiores Índices de Desigualdade do Mundo. Segundo a Oxfam International, no Brasil, 1% dos mais ricos detém mais de 49% da riqueza nacional, e estamos entre os 20 países com mais super ricos. Nos Estados Unidos, o 1% no topo possui 35,1% da riqueza; na China, mais de 30%; no Canadá, 25%; na França, 22%. Adicionalmente, segundo a Oxfam International, 1% das pessoas mais ricas do mundo acelerou a mudança climática. Todos devem se envolver na superação dessa situação.
A Igreja Católica, sem dúvida, há muito está envolvida nessa questão. Na encíclica Populorum progressio (1967), do Papa Paulo VI, ela se envolveu intensamente no debate sobre o conceito de desenvolvimento. A ampla discussão sobre a realidade social foi iniciada em 1967 com a Pontifícia Comissão Iustitia et Pax (hoje, transformada em Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral). O envolvimento da Igreja Católica nas questões sociais também se reflete claramente nas encíclicas de orientação social do Papa João Paulo II, ou seja, Laborem Exercens, Sollicitudo Rei Socialis e Centessimus Annus e no Compêndio da Doutrina Social da Igreja. O compromisso da Igreja Católica em moldar uma visão de desenvolvimento global, sem dúvida, encontra seu ápice no conceito de ecologia integral proposto pelo Papa Francisco em sua encíclica Laudato si’.
Por Fabio Gallo, Professor da Fundação Getúlio Vargas – SP; foi professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.