O acesso de crianças e adolescentes à internet transformou completamente a forma como se informam, se divertem e socializam. Mas esse ambiente digital oferece também riscos significativos, especialmente no que tange à exposição precoce ou não monitorada a conteúdos pornográficos, que podem impactar negativamente seu desenvolvimento emocional e social. As respostas institucionais, contudo, arrastavam-se até que o influenciador e youtuber Felipe Bressanim Pereira, o Felca, lançou seu vídeo viral denunciando a adultização. Provocou uma mobilização nacional por maior proteção digital aos menores e acelerou a aprovação do Projeto de Lei n. 2628/2022, mas é apenas um passo de um longo caminho, como procuramos mostrar neste Caderno Fé e Cidadania.

Pornografia e exploração sexual de menores existem há muito tempo. A internet, as redes sociais e a inteligência artificial apenas potencializaram o problema, com uma intensidade inédita. E, para usar termos cristãos, enquanto houver a liberdade humana neste mundo, o pecado não deixará de existir. Nenhuma resposta, por mais eficiente que seja, irá proteger definitivamente, a nós e às novas gerações, dos próprios pecados (mas, não podemos nos esquecer, pecado algum será tão grande a ponto de não deixar espaço para a graça!).
Raízes culturais e tecnológicas do problema. A descoberta da pluralidade cultural, quando bem orientada, é um bem. Permite-nos compreender e abraçar melhor essa criatura tão amada por Deus, tão complexa e frágil, que é o ser humano, que somos todos nós. Desorientada ou mal orientada, leva a um relativismo danoso a todos. Não se trata aqui de propor imposições dogmáticas, mas de empreender um diálogo aberto e fraterno no qual cada um, respeitando a diversidade humana, encontra um caminho compartilhado para sua realização, reconhecendo as potencialidades, limitações e fragilidades do ser humano. Sem essa busca de consenso, é muito difícil distinguir a censura da orientação, a confusão destrutiva da liberdade construtiva. E vemos que os limites entre pornografia e liberdade já não são mais claros, pois um falso respeito à liberdade dos menores levou ao desrespeito ao seu desenvolvimento intelectual e afetivo…
Por outro lado, as novas tecnologias, com seu rápido desenvolvimento, criam oportunidades tanto para o bem quanto para o mal em uma velocidade que não nos permite uma devida avaliação e regulação. A legislação e as ferramentas de proteção ou responsabilização caminham muito mais devagar do que a inovação tecnológica e seu mau uso visando explorar a ingenuidade, as fragilidades e até as justas aspirações de jovens e adultos.
A resposta cristã é sempre comunitária. Não se pode minimizar esses desafios, mas o afã em buscar soluções nem sempre ajuda. Alguns apelam para uma censura que, por si só, pouco funciona, dificultando a vida dos bons sem impedir os maus. Outros depositam fé na moderação (autorregulação das plataformas) que não costuma atingir seus objetivos. As melhores respostas são integradas e exigem ação conjunta de famílias, empresas de tecnologia e governos.
Muitas vezes, contudo, com o melhor desejo de ajudar as famílias, colocamos sobre os pais fardos insuportáveis, missões praticamente impossíveis. Gente que, para trabalhar, sai de casa muito cedo e retorna muito tarde pode não conseguir saber o que os filhos estão fazendo na internet. Pessoas com pouca escolaridade terão dificuldade de acompanhar as atividades de adolescentes no Ensino Médio. São situações criadas não pela omissão dos pais, mas sim pelas condições objetivas da vida contemporânea.
A Igreja indica um caminho – que não resolverá tudo, mas poderá ajudar muito: a vida em companhia de outros cristãos. Os jovens, encontrando outros em um ambiente sadio, no qual todos podem descobrir, à medida que amadurecem, um sentido bom para suas vidas e a possibilidade de um amor que realiza a pessoa sem coisificá-la, se dão conta da falsidade das propostas e situações que não constroem sua humanidade. Por isso, a Igreja insiste tanto em seus grupos de jovens, nos mais variados formatos e dentro de praticamente todos os grandes carismas eclesiais.
Também os adultos, ajudados pela comunidade, terão condições de um discernimento muito melhor com relação aos desafios da educação atual. Comunidades vivas e sábias, abertas aos novos desafios, bem ancoradas na experiência de fé, são a forma pela qual a Igreja pode sempre nos ajudar em qualquer situação – inclusive diante dos mais complexos problemas criados pelas novas tecnologias!
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Por Rodolfo Canônico