Não se constrói o bem comum sem o diálogo, que permite uma compreensão mínima entre as partes em confronto, e a predisposição a um certo sacrifício dos próprios interesses em nome da coletividade. A solidariedade e a caridade, tão lembradas pela Doutrina Social da Igreja, são fundamentais nesse último aspecto: são elas que nos iluminam para discernir uma justa concessão em nome do “bem de todos” da injusta submissão à “lei do mais forte”.
Com realismo, reconheçamos que a mão estendida de um lado nem sempre encontrará mãos estendidas do lado oposto. O diálogo não implica em renúncia às próprias posições, mas sim em busca de interlocutores sinceros e esforço em procurar entendê-los. Como acontece em toda busca, algumas vezes será bem-sucedida, outras vezes não. Contudo, frequentemente o diálogo não acontece porque os dois lados usam justificativas ideológicas ou alegam que o outro não correspondeu ao esforço já feito.
Para o cristão, buscar quem pensa diferente, estando disposto até mesmo à incompreensão e è perseguição, é um compromisso ético… Mesmo renegado, Cristo não deixou de ir ao encontro de fariseus, samaritanos pecadores e romanos de coração sincero. O Cristianismo se difundiu no mundo pela obra de missionários que foram ao encontro dos pagãos… Também nós podemos fazer um esforço para buscar os que pensam diferente de nós.
A vida atrai a vida, o bem atrai o bem. Seja qual for a posição, aqueles que estão “vivos”, isto é, que vivem com intensidade, que buscam realmente o bem e não a afirmação de uma posição partidária, tendem a se reconhecer mutuamente, mesmo quando estão em lados opostos da arena política. Mais: os vivos convidam os outros à vida, acordam o desejo de bem naqueles que estão adormecidos. Este é o sentido do testemunho cristão…
Seria muito ingênuo imaginar um entendimento mútuo entre todos, uma transformação imediata da política. Quem faz essa experiência de encontro com o diferente sempre sofre com perseguições e incompreensões; muitas vezes, se depara com situações nas quais, apesar do respeito e até do afeto mútuo, o consenso não é possível. Mas percebe, também, que, apesar de todas as dificuldades, percorre um caminho que constrói de forma mais efetiva o bem comum, no qual cada um se torna cada vez mais vivo e humano – enquanto o caminho oposto se torna cada vez mais uma disputa de poder sectária, em que as pessoas vão se consumindo na raiva e no ressentimento.