A pandemia que estamos vivendo com o novo coronavírus mudou nossos hábitos cotidianos e nossa relação com a Igreja. Muitas paróquias estão possibilitando momentos de oração on-line, e a Santa Missa transmitida pela internet já é parte das atividades pastorais. Na verdade, são tentativas de aproximação e de organização da comunidade, até que passe a pandemia e, então, será possível retornar à vida normal que se tinha no início de 2020.
A vida precedente, contudo, não voltará tão cedo, se é que voltará, sendo uma ilusão acreditar que teremos a vacina ou a medicação nos próximos meses para vencer o vírus. Parece-me que o momento nos convida a ler “os sinais dos tempos”, para encarnar o Evangelho na cultura em que, internacional e localmente, estamos inseridos. Somos obrigados a permanecer em casa e, com raríssimas exceções, teremos que nos acostumar com essa realidade, sem saber até quando.
Historicamente, desde a Igreja primitiva, a família é a igreja doméstica e a casa é o lugar por excelência para o encontro com o Senhor Ressuscitado e com os irmãos. O próprio Cristo visitou as famílias em suas casas e esteve próximo das alegrias e tristezas da vida familiar, fazendo-nos compreender que a vida em família foi instituída por Deus. O Concílio Vaticano II falou sobre a igreja doméstica (Lumen gentium, 11), e o Papa Francisco fez uma afirmação na Exortação Apostólica Amoris laetitia, 183, muito apropriada para o momento de pandemia no qual estamos inseridos: “Deus confiou à família o projeto de tornar ‘doméstico’ o mundo, de modo que todos cheguem a sentir cada ser humano como um irmão” .
A nova situação planetária está mostrando a necessidade do protagonismo da família para favorecer a vida social e a economia. É preciso humanizar as relações sociais e aprender com a família que a economia não se organiza apenas em vista do lucro e do consumo, mas proporciona a fraternidade. Para tanto, a família não pode ser apenas destinatária das leis e das instituições do Estado, mas a família tem que ser protagonista, defendendo e sustentando positivamente seus interesses para o cumprimento de seus deveres com a responsabilidade de transformação do social.
A palavra economia, etimologicamente, significa “administrar a casa”, e as relações econômicas da sociedade nasceram do trabalho doméstico. Desde suas origens, a família foi decisiva para a economia, orientada, evidentemente, pelo espírito da partilha e da solidariedade. O trabalho, nessa perspectiva, foi central para o nascimento, o crescimento e o bem-estar da família.
É necessário ler os sinais dos tempos e valorizar a ação pastoral no protagonismo das famílias, para que trabalhem na evangelização do social de modo associado. A paróquia é “uma família de famílias” (Amoris laetitia, 202) e tem a possibilidade, pelos meios de comunicação e por outros meios, de ajudar as famílias a se associarem para a transformação da cultura, de modo a tornar o mundo “doméstico”, ou seja, familiar. Portanto, o momento em que vivemos é um sinal dos tempos, semelhante às primeiras comunidades, para que a evangelização seja laica, familiar e associada.