Diante dos novos desafios tecnológicos, demográficos e culturais de nossa sociedade, nossas reflexões para o Dia do Trabalhador se voltam para o sentido do trabalho… Apesar das imposições e condicionamentos, será possível uma experiência que torne o trabalho cada vez mais humano, uma experiência que ilumine quais caminhos seguir para a construção de um futuro sempre mais justo e fraterno?
O mundo do trabalho está mudando e nós contemplamos, entre estarrecidos e maravilhados, os impactos dessas mudanças em nossas vidas. Sem dúvida, na vida pessoal, os desafios parecem ser maiores do que as facilidades. Os aumentos de produtividade, as diversões e os confortos trazidos pelas novas tecnologias convivem com o envelhecimento da população, a redução dos postos de trabalho, as desigualdades cada vez mais difíceis de serem superadas… Curiosamente, ou dramaticamente, ao mesmo tempo que parecemos caminhar para um futuro cada vez mais brilhante, parecemos caminhar também para um futuro cada vez mais ameaçador para cada trabalhador e para cada família.
O fato é que, para aqueles que conseguem se integrar ao fluxo do progresso material e dos avanços tecnológicos, o futuro será realmente cada vez mais promissor. Mas, para aqueles postos à margem, para os deslocados e sem condições de entrar nesse fluxo, o futuro não parece tão promissor assim… Em livros e filmes, muitas distopias futuristas mostram, até visualmente, esse mundo de contrastes: nos céus, em arranha-céus gigantes ou cidades suspensas, os afortunados, bem integrados ao sistema; nos solos, em prédios descaídos, os excluídos pelo sistema, que até podem desfrutar de muitos confortos da sociedade tecnológica (afinal, a economia precisa do consumo também desses), mas estão privados do protagonismo e da possibilidade de realização reservada “aos de cima”.
Diante da ameaça do desemprego e da persistência do fenômeno da pobreza, as sociedades vão se dando conta da necessidade dos chamados programas de renda mínima, que garantem o sustento daqueles que estão à margem da sociedade, independentemente de suas atividades laborais. Mas, como lembra o Papa Francisco, os programas assistenciais podem e devem ser vistos como alternativa emergencial, mas só o trabalho digno pode responder de forma humana aos problemas sociais e ao desejo de realização da pessoa humana (cf. Fratelli tutti, FT 162).
Ao mesmo tempo, aqueles que estão bem empregados, com rendas satisfatórias, são cada vez mais pressionados a manter alto desempenho num mundo do trabalho cada vez mais competitivo. O home office, frequentemente pensado como uma condição laboral mais confortável, termina por romper os limites entre trabalho e repouso, invade a vida familiar e torna o trabalhador cada vez mais preso à sua atividade profissional.
Nesse amplo contexto atual, pensar o sentido do trabalho se torna cada vez mais vital. O “sentido subjetivo do trabalho”, tão bem apresentado por São João Paulo II, na Laborem exercens, precisa ser retomado, compreendido não apenas como reflexão filosófica ideal, mas como critério de compreensão e orientação das práticas sociopolíticas na construção de um mundo do trabalho mais humano e de uma sociedade mais justa.