A unidade entre os cristãos é um dom do Espírito, pelo qual cumpre orar e pedir, mas também é uma tarefa de todos os fiéis (cf. Catecismo da Igreja Católica, CIC 820-822). Quando adentramos o terreno da política e dos debates culturais, contudo, frequentemente nos deparamos com o contratestemunho daqueles que desejam convencer, quase obrigar, toda a comunidade a pensar como eles. A pretexto de explicar e ensinar a posição da Igreja, geralmente com a melhor das intenções, acabam por impor posições pessoais e ideológicas, que assustam e afastam os que pensam diferente. Dessa forma, criam-se, na Igreja, “bolhas” de pensamento único. Todos conhecemos paróquias, associações e movimentos que são taxados, muitas vezes de forma injusta, como sendo progressistas ou conservadoras, de direita ou de esquerda…
É natural que católicos com pensamento afim tendam a se reunir – é, inclusive, necessário para o amadurecimento tanto de um justo discernimento quanto de propostas e obras concretas para a sociedade. Contudo, ao associarmo-nos, não podemos nos fechar em nós mesmos, ficando cada vez menos capazes de dialogar com os demais e até de reconhecer os ensinamentos mais gerais da Igreja (quantas vezes nós, católicos, nos escandalizamos quando o Papa defende a opção pelos pobres ou condena a ideologia de gênero!).
Líderes e responsáveis, algumas vezes, se armam de argumentos para justificar sua posição, mas fazem pouco esforço para entender e acolher os que pensam diferente. Com isso, ainda que sem perceberem, fortalecem a autorreferencialidade da comunidade (ou a hegemonia de influenciadores que não representam verdadeiramente a posição católica) e afastam os demais, mesmo quando estes têm boa intenção.
Para uma postura justa, aqueles que são referência para a comunidade devem também procurar entender e acolher os argumentos de quem tem uma posição oposta à da maioria do grupo (desde que justos, evidentemente). Para um caminho de entendimento mútuo, unidade e construção do bem comum, o mais útil não é mostrar os erros do outro, mas sim ser capaz de mostrar uma verdade maior, na qual se evidencia o que existe de justo e verdadeiro em ambas as posições.
O amor e a acolhida, tanto afetiva quanto intelectual, são fundamentais para a construção da unidade na pluralidade. Isto implica em uma grande e difícil responsabilidade para os que guiam as comunidades, mas é algo possível na medida em que oramos e nos entregamos, com docilidade, à ação do Espírito.