A pior coisa que um jovem pode dizer para um adulto é “quando tiver a sua idade, não quero ser como você”. Infelizmente, isso pode não ser dito, mas é pensado com enorme frequência. Existem casos em que o jovem não entende as condições de vida do adulto, suas limitações e as formas pelas quais se realiza humanamente, mesmo enfrentando suas dificuldades; ou ainda não viveu certas aspirações típicas da vida adulta, como a paternidade e a maternidade, que implicam uma doação pouco evidente para quem ainda está descobrindo a si próprio. Mas esse juízo, muitas vezes, corresponde realmente à perda das esperanças da juventude, ao conformismo diante das injustiças do mundo, do amesquinhamento do coração como forma de sobrevivência… Ou, pior, em comportamentos autoritários, que oprimem o outro.
O sociólogo K. Manheim, em Ideologia e Utopia (Rio de Janeiro: Zahar), citando Nietzsche, considera que podemos dizer “Esqueci porque comecei”. Quando li essa passagem, na minha juventude, perguntei-me como poderia alguém esquecer das razões que o levam a fazer o que faz? O tempo passou e o espanto foi dando lugar à constatação de que todos nós, muitas vezes, vivemos de modo maquinal, fazendo as coisas porque elas devem ser feitas, sem nos darmos conta de nossas motivações.
Paralelamente, fui entendendo também uma admoestação que Dom Luigi Giussani fazia aos adultos, dizendo-lhes que deviam olhar para os jovens e reaprender com eles: os mais velhos precisam sempre recuperar as razões que os levam a fazer o que fazem – e olhar os jovens pode ser muito útil para uma retomada.
Jovens que manifestam uma enorme paixão pela vida, buscando obter sempre o máximo de cada situação, são fascinantes. Do que nos vale o Cristianismo, com sua ética “de máximos”, com seus padrões e princípios elevados e rigorosos, mesmo quando iluminados pelo amor e a misericórdia, se não for a grande resposta a esse anseio juvenil por uma vida que valha a pena?
Ao mesmo tempo, me entristece ver jovens que parecem ter perdido o ímpeto da juventude e desde logo se tornam conformistas, dizendo-se realistas ou moralmente bons. É verdade que as explosões de vida juvenis podem gerar condutas inadequadas ao desenvolvimento da pessoa, mas negar essa busca por realização, felicidade, prazer e justiça não ajuda a construir um mundo melhor – pode inclusive levar ao arrependimento pelas “ocasiões perdidas”.
A juventude é o período em que nos damos conta do caráter ilusório de muitos sonhos da infância, que constatamos as contradições do mundo e a fragilidade dos adultos. A perda das ilusões, o medo do fracasso e a falta de perspectivas estimulantes podem levar ao ressentimento e à raiva, a uma ávida e pouco sensata busca pelo prazer e pelo alívio das tensões. Nesse momento, tanto a falta de uma orientação segura e de um modelo de vida adequado quanto a tentativa de uma solução autoritária e esquemática se tornam particularmente perigosos.
A grande questão, tanto para os jovens quanto para os adultos, é não perder a relação com aqueles que são sinal de uma humanidade intensamente vivida, que ajudam a reconhecer toda a beleza e a grandeza da existência. Uma existência bem vivida, a consciência de ter experimentado a riqueza que a vida oferece e a liberdade de quem sabe o valor daquilo que está vivendo são as melhores provas que o Cristianismo pode apresentar ao mundo.
Muy querido Borba hace tiempo que no nos vemos pero al ver que eres tú quien escribe me he detenido en leerlo varias veces, lo que dices es verdad pero habría que ver si al mirar para los jóvenes podríamos encontrar esa “frescura” del pensamiento y las convicciones que apuntas
Un fuerte abrazo desde Cuba
Tu hermano
René