Os Mosteiros e a Doutrina Social da Igreja

Tempos de polêmica e enfrentamento são particularmente exigentes ao discernimento cristão – exigem não apenas análises racionais criteriosas, mas oração e uma real abertura do coração à ação sempre surpreendente do Espírito. São características marcantes das ordens monásticas contemplativas, mesmo que não exclusivas delas. Nesta edição dos Cadernos Fé e Cidadania, fomos ouvir em que a espiritualidade dos monges beneditinos pode nos ajudar diante dos desafios políticos atuais. O material é resultado de um Encontro Cultural promovido pelos monges e monjas camaldolenses, nos Mosteiros da Encarnação e da Tranfiguração, em Mogi das Cruzes, São Paulo.

Arte: Sergio Ricciuto Conte

A tradição monástica, em sintonia com o ensino social católico, considera a pessoa humana como o ponto de partida para olhar a realidade em qualquer circunstância (cf. Compêndio de Doutrina Social da Igreja, CDSI 105ss). O monaquismo reconhece a pessoa na sua ação livre. Os monges sabem que tudo – e todo bem possível – começa e se realiza na pessoa, por meio da sua liberdade inerente. Quem de fato transforma a realidade não é o Estado, esse ou aquele sistema, mas a pessoa.

Pensamos que o mundo é modificado a partir das coisas que fazemos exteriormente ou construímos, mas, na realidade, o mundo é modificado, muito mais, pelo movimento do coração dos seres humanos. A dimensão espiritual é muito mais poderosa do que a material… E a tradição monástica, que existe desde tempos imemoriais, milhares de anos antes de Cristo, com os vedas por exemplo, reconhece a presença e o poder dessa dimensão espiritual.

O fruto do caminho monástico: a harmonia no relacionamento com toda a criação e com todas as pessoas. Como viver em harmonia, como construir uma sociedade mais justa? Antes de tudo, é preciso suplicar a Deus por si e pelos outros. São João Crisóstomo, o grande Padre e doutor da Igreja que viveu entre os séculos IV e V, diz que é preciso, antes de tudo, rezar e suplicar a Deus diante das dificuldades. Esse é o caminho para amarmos e sermos amados e para uma vida calma e tranquila.

Num caminho de oração e de companhia com Cristo, mudam os nossos sentimentos e o nosso modo de olhar para as pessoas e as coisas. O que era uma pedra no nosso caminho, que representava uma dor dilacerante, começa a ficar uma pedra cada vez menor, que vai como que se distanciando de nós e diminuindo de tamanho. A experiência monástica ensina que o sintoma de que entramos nessa nova condição é que nos tor- namos capazes de responder a três questões fundamentais com clareza e serenidade:

1. De quem eu dependo de verdade ou quem é o Senhor da minha vida?

2. Quem cuida verdadeiramente de mim?

3. O que eu realmente desejo ou preciso?

Conseguir responder a essas três questões significa que agora temos diante dos olhos o Senhor para quem estávamos rezando. Isso demonstra que agora sabemos em quem confiar. Segundo São Paulo (cf. Rom 8, 28), Deus dispõe tudo para o nosso bem, tudo concorre para o bem dos que buscam a Deus (até, inclusive, o mal). Será isso possível? Sim, exatamente assim, pois esta é a conquista de Cristo na cruz. A grande objeção que se pode ter nesse caso é a im- paciência, querer resolver tudo logo e do nosso jeito, e não esperar a magnanimidade de Deus, nem confiar na sua sabedoria.

O caminho cristão não é se resignar ou suportar. Ele implica compromisso, esforço e luta – mas acontece enquanto se reza, se pede e se mantém viva a esperança. Deus quer que todos se salvem e tem os seus caminhos para isso (que não são os nossos).

Uma posição mais justa diante dos problemas do mundo. A Doutrina Social da Igreja não é uma ideologia ou um programa de ação política (Compêndio de Doutrina Social da Igreja, CDSI 72ss). Destina-se a orientar os comportamentos pessoais (CDSI 73), ajudando cristãos e não cristãos a se colocarem numa posição adequada à solução dos diversos problemas sociais. Não é uma atribuição específica de alguns, mas o resultado de um esforço que envolve toda a comunidade eclesial (CDSI 79).

Nessa perspectiva, uma sadia espiritualidade monástica é uma luz que nos ajuda a entender melhor o ensino social cristão.

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Ana Maria de godoi
Ana Maria de godoi
1 ano atrás

Amo ,a Espiritualidade mosnastica,sou apaixonada pelas irmãs beneditinas, pessoas humana coração de ouro