Os muitos problemas sociais associados ao contexto familiar

Nossa sociedade enfrenta muitos problemas que poderiam ser, se não evitados, ao menos minimizados por uma política mais eficiente de apoio às famílias.

A seguir estão descritos alguns problemas sociais que estão associa­dos ao contexto familiar, listados pelo Family Talks, em seu documento Como apoiar as famílias em sua pro­posta de governo.

Violência doméstica contra crian­ças. O Brasil registra 673 casos de violência (seja física, psicológica, sexual ou por negligência) contra crianças de até 6 anos por dia ou 28 a cada hora, e 84% dessas agressões têm pais, padrastos, madrastas ou avós como suspeitos, segundo dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, analisados em estudo pro­duzido pelo comitê científico do Nú­cleo Ciência pela Infância (NCPI).

Negligência familiar. Cerca de 40% das denúncias recebidas pelo Disque 100 são casos de negligência familiar. No contexto familiar, são exemplos de negligência: deixar a criança sozi­nha em casa ou na rua, não lhe dar alimento ou deixar de cuidar de sua higiene pessoal, não oferecer afeto ou não colocar limites. A negligência prejudica o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional da criança.

Delinquência juvenil. De acordo com um relatório publicado pelo Ins­tituto Brasileiro de Geografia e Esta­tística (IBGE), em 2022, somente no ano de 2019 foram registrados mais de 300 mil casos de crimes juvenis no País. O comportamento delinquente pode estar associado a aspectos da dinâmica familiar, tais como muitos conflitos familiares, vínculos frágeis entre pais e filhos, práticas educati­vas inadequadas, ausência de regras, rotina pouco estruturada e falta de apoio parental.

Abuso de álcool e drogas. De acor­do com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2019, do IBGE, cerca de 63,3% dos estudantes de es­colas públicas e particulares entre 13 e 17 anos já experimentaram bebida alcoólica, sendo mais de um terço deles antes dos 14 anos. Além disso, cerca de 13% dos escolares já haviam experimentado algum tipo de droga ilícita. O consumo abusivo de álco­ol e drogas é um problema de saúde pública. O suporte e apoio familiar impactam o menor ou maior padrão de consumo de álcool e drogas – e as famílias precisam de apoio para criar ambientes familiares saudáveis, evitando situações de risco para os adolescentes.

Violência nas escolas. Em 2023, denúncias de casos envolvendo vio­lência nas escolas subiram cerca de 50%, segundo dados do Disque 100. Crianças e adolescentes que são ex­postos à violência doméstica têm mais chances de apresentar compor­tamentos violentos ou agressivos. Assim, a violência nas escolas pode ser reflexo de um contexto familiar agressivo, negligente.

Rompimento da convivência fa­miliar e comunitária de crianças. O direito à convivência familiar e comunitária, garantido constitucio­nalmente às crianças e adolescentes, busca assegurar o desenvolvimento integral de cada pessoa em um am­biente que ofereça educação, amor, proteção, saúde física e mental. Um estudo divulgado pela organização Aldeias Infantis SOS, realizado entre novembro de 2022 e março de 2023, aponta que 32 mil crianças e adoles­centes estão afastados do convívio familiar, em serviços de acolhimento.

Insegurança alimentar. Em 2023, o IBGE avaliou que 64 milhões de bra­sileiros viviam em lares com algum grau de insegurança alimentar (21,6 milhões de domicílios, ou 27,6%). A insegurança é grave em 9,4% dos domicílios; destes, em metade a ren­da domiciliar per capita era inferior a meio salário-mínimo. Nessas cir­cunstâncias, além do sofrimento im­posto às famílias, o desenvolvimen­to infantil fica comprometido, com deterioração da qualidade de vida, fome, doenças e problemas de saúde física e mental. Entre esses problemas estão anemia, desnutrição, sobrepeso devido ao consumo desbalanceado de gordura e açúcares, bem como a redução da eficácia do sistema imunológico.

Obesidade infantil. Em meados de setembro de 2022, no Brasil, mais de 340 mil crianças de 5 a 10 anos de idade foram diagnosticadas com obesidade, de acordo com o relatório público do Sistema Nacional de Vigi­lância Alimentar e Nutricional, com dados de pessoas acompanhadas na Atenção Primária à Saúde. A obesi­dade é uma doença multifatorial, que exige, além da saúde, intervenções integradas de diversos setores para deter seu avanço e garantir o pleno desenvolvimento durante a infância.

Baixa participação da família na es­cola. A pesquisa Atitudes pela Edu­cação (2014) mostrou que 19% dos pais são considerados distantes do ambiente escolar e com pouca relação com os filhos. A baixa participação da família na escola pode ter conse­quências negativas para o desempe­nho acadêmico e o desenvolvimento socioemocional dos alunos.

Aumento de depressão e ansiedade entre crianças e adolescentes. Uma a cada quatro crianças e adolescentes teve sinais de ansiedade e depressão na pandemia, aponta estudo da Fa­culdade de Medicina da Universida­de de São Paulo. Além disso, entre adolescentes de 13 a 17 anos, uma análise a partir da Pesquisa Nacio­nal de Saúde na Escola revelou que “31,4% sentiram-se tristes na maioria das vezes ou sempre; 30,0% achavam que ninguém se preocupava com eles; 40,9% ficaram irritados, nervosos ou mal-humorados; 21,4% sentiam que a vida não vale a pena ser vivida; e 17,7% apresentaram autoavaliação em saúde mental negativa” (A saúde mental dos adolescentes brasileiros: pesquisa nacional de saúde do esco­lar de 2019).

Falta de vagas em creches. Dados do IBGE de 2023 apontam que mais de 2 milhões de crianças no País estão sem vagas em creches. Essa realida­de pode ser nociva para as mães das crianças, que têm mais dificuldades em conciliar a maternidade com seu trabalho profissional, e para as pró­prias crianças, que podem ter seu de­senvolvimento prejudicado em razão das dificuldades enfrentadas por suas famílias para exercerem o cuidado.

Prolongado tempo de uso de telas por crianças e adolescentes. Uma pesquisa realizada no final de 2021 apontou que o Brasil é o país com maior exposição de jovens e crianças a aparelhos eletrônicos no mundo: 96% das crianças brasileiras usam um dispositivo móvel. O excessivo uso de telas por crianças e jovens é tema muito discutido, especialmente no que se refere à saúde mental, que é comprovadamente influenciada de forma negativa.

Insuficiência/má qualidade de áre­as verdes para lazer. A ausência de áreas verdes está relacionada a pro­blemas de saúde mental como ansie­dade e depressão, segundo estudo da USP. Há estudos, ainda, que apontam a relação de atividades em ambien­tes naturais e a redução de déficit de atenção e de hiperatividade em crian­ças e adolescentes; redução da agres­sividade e auxílio em quadros de se­dentarismo e obesidade.

Insuficiência de instituições volta­das a idosos. De acordo com o Insti­tuto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), há hoje no país 2,4 milhões de idosos que não conseguem fazer sozinhos suas atividades básicas di­árias, como tomar banho, comer e sair para fazer compras ou ir ao mé­dico. Sempre segundo o IPEA, 71% dos municípios não têm instituições de longa permanência para idosos. Há somente 2 mil centros públicos de atenção para idosos, nos quais fa­miliares podem deixar seus parentes mais velhos durante o dia, enquanto estão no trabalho. Por outro lado, em função do envelhecimento da po­pulação, a proporção de idosos, que em 2010 era de 7,3%, pode chegar a 40,3% da população em 2100.

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