Por que a superação das diferenças é tão difícil?

GOYA – El aquelarre (Museo Lázaro Galdiano, Madrid, 1797-98)

A Igreja (tanto a instituição católica quanto suas comunidades) aprendeu que um certo esforço para a unidade político-partidária frequentemente facilitava a manipulação e o contratestemunho, mas isso não invalida a importância do seguimento aos ensinamentos do magistério e dos juízos compartilhados, nem elimina a dor da divisão entre nós. O que, nos dias de hoje, dificulta tanto esta unidade mínima?

Somos uma sociedade desiludida com as promessas políticas e o comportamento das lideranças sociais do passado – e isso vale não só para o Brasil! A “esquerda progressista”, grande movimento social do século XX, não conseguiu entregar plenamente aquilo que prometeu. A “direita conservadora”, sua grande rival, frequentemente naufragou nas contradições morais e na falta de sensibilidade social de seus líderes. Hoje, a grande novidade é que esses grupos antagônicos disputam a arena político-cultural em igualdade de condições, tentando deslegitimar uma à outra, enquanto se justificam perante a opinião pública.

O aparelhamento das instituições pelas forças hegemônicas, o crescimento das redes sociais e o desenvolvimento das estratégias midiáticas forneceram os instrumentos necessários para que a polarização, amplificada pela manipulação da informação e dos afetos, atingisse os contornos chocantes de nossos dias.

Nesta batalha ideológico-cultural, emoções, como ressentimento e paixão, são facilmente manipuláveis, muitas vezes recobertas por uma capa de objetividade e racionalidade. Sentimos, cada vez mais, a necessidade de mostrar que estamos certos e os que pensam diferente estão errados. Quanto maior nossa impotência e nossa desesperança, maior nossa raiva e mais facilmente somos manipulados.

Todos queremos ter nossa dignidade e nossos valores respeitados, ver tanto os que fazem o mal quanto os que sofrem em nome do bem justiçados; todos esperamos que nossos filhos tenham um futuro promissor. Nossos adversários, no campo político, parecem ser os grandes empecilhos a que tudo isso se realize – e isso nos dói ainda mais quando esses adversários são nossos irmãos de fé, justamente aqueles com os quais esperávamos contar!

O jogo de influenciadores e lideranças políticas é justamente explorar nossa insegurança e nosso ressentimento, muitas vezes nos cegando para o fato de que os problemas decorrem de situações estruturais ou conjunturais que transcendem à vontade tanto nossa quanto de nossos adversários – situações estas que só podem ser superadas no tempo, a partir de um trabalho conjunto de todos aqueles que desejam verdadeiramente o bem comum. Aliás, a alegria dos maus está justamente na divisão entre os bons, que não conseguem superar suas diferenças para chegar ao bem comum…

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