Quando a amizade é social

A Campanha da Fraternidade 2024 nos convida a ter este olhar abrangente e universal da amizade social na busca da solidariedade, ampliando fronteiras e fortalecendo a unidade, pois, de fato, somos todos irmãs e irmãos.

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Amigo da infância, da escola, do bairro, da comunidade, do clube, do trabalho, e assim por diante, se pode enumerar as amizades. Amigo é com quem se tem afinidade, cumplicidade, confiança, compreensão e que está sempre presente na tua vida, estando ele perto ou longe. Na origem latina, amicitia é um termo que tem a mesma raiz de amare: amor. No grego, segundo alguns autores, amigo é um composto de a (sem) + ego (eu), que mais ou menos seria: “sem eu”, sem apego. Jesus escolheu chamar os discípulos de amigos aos quais tudo revelou: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai” (Jo 15,15).

E por que amizade social? O que difere amizade da amizade mais geral? Amizade social, este tema escolhido para a Campanha da Fraternidade 2024, nos indica um caminho mais amplo para os relacionamentos, um olhar para o mundo além das fronteiras geográficas, sociais e econômicas, com foco para aqueles que mais precisam.

O cartaz da Campanha de 2024 traz o Papa Francisco de bengala (assumindo limites) e no peito a cruz de Dom Helder Câmara, aludindo à semelhança entre eles no olhar em busca dos mais vulneráveis e lembrando uma das maiores figuras brasileiras do século XX na luta pelos pobres e marginalizados. Dom Helder, mentor da CNBB, da qual era secretário-geral quando em 1964 foi realizada a 1ª Campanha da Fraternidade.

A amizade social nos convida a construir uma sociedade sem exclusão, sem indiferença, sem discriminação, sem violência e sem guerras: um convite para construir uma sociedade solidária. Ela nos impulsiona a abrir os horizontes para as relações internacionais, economia, unidade das nações e da necessidade de estar agindo e sonhando coletivamente, com visão solidária e abertura aos interesses de todos, com liberdade dos poderes econômicos, com interesse ao bem comum, complementando que não devemos aceitar convites para ignorar a história ou deixar de lado a experiência dos mais velhos. (cf. Fratelli tutti, FT 13-14)

A parábola do Bom Samaritano muito nos ensina, pois o samaritano foi o único que teve piedade do homem caído e machucado, mesmo sendo ele um desconhecido. Um ato que foi além da amizade, extrapolou todos os parâmetros e foi ao encontro do bem do outro. A amizade social nos leva a trabalhar por políticas públicas que tenham como fim o bem comum, acatando as diversas formas da mentalidade, superando as indiferenças nas dimensões sociais e religiosas.

Devemos estimular a comunhão e o diálogo, caminhando sempre mais para uma cultura do encontro, a fim de construir a unidade em meio à pluralidade, superando divisões e polarizações. Daí, então, amizade social, já que sem fronteiras, que vai além de um relacionamento fechado em grupo, clã ou pessoas da mesma origem ou classe. O caminho é o diálogo, a escuta com o coração, sempre acreditando no amor intrínseco de todas as pessoas, pois criadas à imagem do Deus.

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Ana Claudia Neila
Ana Claudia Neila
4 meses atrás

es tal cual como dijo Jesus: AMIGO ES LA MITAD DEL ALMA DEL OTRO