Aprender a amar, quando imersos em um sofrimento inevitável, é a grande sabedoria que Cristo nos ensina na cruz. São Paulo nos diz que não há sabedoria maior senão a de Cristo crucificado (cf. 1Cor 2,2). Viver a experiência do amor enquanto sofremos não significa não fazer todo o possível, sem qualquer resignação passiva, para buscar caminhos para a nossa felicidade e a dos outros.
Não se trata de amar o sofrimento. O sofrimento dói sempre. Cristo também pediu ao Pai para evitá-lo. Podemos, porém, viver no amor nosso sofrimento, como Jesus viveu o seu. É a experiência mais profunda e verdadeira da vida. Por isso, foi inevitável para Jesus vivê-la ao encarnar-se.
Há duas maneiras de sofrer: irar-se, revoltar-se, escandalizar-se, até acabar com a própria vida, agir violentamente contra si ou contra outro; ou, então, viver o sofrimento abraçando-o com amor. Trata-se, primeiramente, de um amor a si mesmo. A presença desse amor a si permite aceitá-lo tendo piedade de si mesmo.
Em segundo lugar, é preciso lembrar-se de que pelo sofrimento se cresce muito, se este é vivido na oração. Quando rezamos sinceramente, Cristo se une a nós e seu Espírito age dentro de nós. Ele nos abraça e nós O abraçamos. É bom experimentar esse abraço fisicamente. Podemos pegar nas mãos um crucifixo e abraçá-lo. O resultado é garantido.
Amar no sofrimento é uma experiência de santidade. A santidade não é ser capaz. Não é não ter defeitos. A santidade é abandonar-se nos braços de Jesus. A santidade é tanto maior quanto maior for o grau de abandono. E o caminho à santidade mais profundo é aprender a amar enquanto se sofre. Viver desse modo leva-nos a não ter medo da circunstância, mas a abraçá-la. Aprendendo, pouco a pouco, a ter sempre menos medo dos sofrimentos que nos advêm.
Dizer diante de um sofrimento inevitável “Seja bem-vindo!” não significa não sofrer e não fazer todo o possível para resolver a situação, mas é um recebê-lo com cordialidade. Aceitá-lo, aproximar-se de Jesus, e pedir que Ele nos ensine a viver como Ele viveu.
Será uma experiência redentora, construtiva, para mim e para todos os envolvidos, e que misteriosamente terá a força de irradiar o bem no mundo – como foi para Jesus. Mas o primeiro passo é tudo: lembrar-se de que, como Cristo, posso viver o sofrimento amando. É um ‘con-formar-se’ a Cristo, adquirir a Sua mesma forma. E este é o gesto que mais nos salva e salva o mundo. É onde o amor tem sua força máxima.
Mas como é possível amar como Cristo amou ao viver as nossas cruzes? Não nos é de fato possível, pois está acima das nossas forças. Mas se pedirmos, Ele nos carregará nos seus braços. Nessa circunstância, Ele, que é sempre bom, nunca nos negará e nos carregará consigo. O amor vivido no sofrimento é fruto do ser carregado pelos braços de Cristo. Basta pedi-lo.