Estamos em pleno século XXI, vivendo grandes avanços em todos os campos. A revolução digital é uma realidade, a inteligência artificial entra em nosso dia a dia. Enfim, grandes conquistas a largos passos.
No entanto, a fome é o maior problema de saúde da humanidade. E neste ano está piorando. Obviamente, a crise trazida pela pandemia de COVID-19 agrava a situação, mas não é a única responsável por seu agravamento: os conflitos e as mudanças climáticas também são fatores importantes.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), hoje 24% da população mundial vive em áreas de insegurança alimentar, sendo que 9% das pessoas estão em áreas de insegurança alimentar grave. E pior: esses números podem muito bem subir devido às mudanças climáticas que afetarão cada vez mais as cadeias alimentares globais.
Como prováveis consequências deverá ocorrer queda da produção de alimentos em virtude de maiores concentrações de CO2 na atmosfera, temperaturas mais altas e aumento da escassez de água. As estatísticas mundiais sobre a pandemia de COVID-19 mostram que ocorreram mais de 3,8 milhões de mortes desde o seu início em 2020. Enquanto somente em 2021 já perderam a vida mais de 4,1 milhões pela fome e doenças relacionadas. Isso significa que 25 mil pessoas morrem de fome por dia ao redor do mundo. Dentre essas mortes, temos 10 mil crianças – uma criança morre de fome a cada 10 segundos.
Este cenário torna ainda mais forte e importante as palavras do Papa Francisco, quando diz: “Não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade”.
Um grande esforço para a redução da fome tem ocorrido, como mostram dados da ONU. Desde 1990, o número de pessoas afetadas pela fome diminuiu perto de 190 milhões. Nos últimos anos, porém, o desenvolvimento positivo parou. Hoje são mais de 820 milhões de pessoas famintas no mundo. Isso compromete o atingimento do importante Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU de Fome Zero até 2030.
Ainda em 2019, o Papa Francisco manifestou sua preocupação sobre a situação da desigualdade: “Estou preocupado por notar que surgem vozes, especialmente de alguns doutrinários, que tentam explicar que os direitos sociais são velhos, estão desatualizados e não têm nada com que contribuir para as nossas sociedades. Dessa forma, confirmam políticas econômicas e sociais que levam os nossos povos à aceitação e justificação da desigualdade e da indignidade”, advertiu. Um fato dramático é que, a despeito de todos os avanços da humanidade, ainda são imaturos social e politicamente.
Hoje, a maioria das pessoas vive em estado de pobreza. Sendo que uma em cada dez pessoas estão no grupo de extrema pobreza. E, até 2021, mais 150 milhões de pessoas devem se juntar a essa terrível estatística, devido à COVID-19 e à recessão global. Mostrar a realidade dos fatos é essencial e tem que ser algo motivador e orientador de ações concretas de todos.
Como cristãos, devemos observar exemplos e ações efetivas que busquem a redução do sofrimento de nossos irmãos. Um deles é o trabalho de acolhimento às pessoas em situação de rua realizado pelo Padre Júlio Lancellotti. Não podemos nos isentar da luta contra a fome e todas as formas de injustiça. Estaremos atendendo ao nosso maior mandamento: “Ame o seu próximo como a si mesmo”.
Fabio Gallo é professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e ex-docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).