A Igreja é bonita!

Sempre é bom voltar a refletir sobre a Igreja, sua natureza, vida e missão. Fizeram isso também os Cardeais durante as reuniões preparatórias ao Conclave, que elegeu o Papa Leão XIV. O que é a Igreja de Cristo? Qual é a razão de ser de sua existência? Como deve ser a vida da Igreja?

A Liturgia da Palavra do 6º Domingo da Páscoa, celebrada em 25 de maio passado, trouxe alguns elementos iluminadores e muito importantes sobre isso. No Evangelho (cf. Jo 14,23-29), Jesus insistia com os apóstolos: “Fiquem unidos em mim, e assim vocês estarão unidos também ao Pai e ao Espírito Santo”. Em seguida, Jesus pediu aos apóstolos: “Observem minha palavra; quem não observa minha palavra, é sinal de que não está unido a mim”. E, por fim, Jesus insistiu: “Amem-se uns aos outros. Nisso, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos”.

Por essas recomendações de Jesus, que soam como um testamento e uma ordem dada aos apóstolos, podemos compreender que a Igreja, comunidade dos discípulos, é mais do que um ajuntado de pessoas, com alguns propósitos em comum, que fazem coisas boas, conforme o pensamento de cada um. A Igreja é a comunidade daqueles que estão unidos em Cristo e, por Ele, em comunhão com a Trindade Santa. A fé em Cristo e a obediência da fé são essenciais à existência da Igreja. Da mesma forma, são essenciais a comunhão de fé e de caridade. Uma comunidade-Igreja dividida e em conflitos não é um bom testemunho por Jesus Cristo e pelo Evangelho e requer um esforço grande de superação das divisões.

A primeira leitura do Domingo (cf. At 15,1-2.22-29) tratava da questão posta por Paulo e Barnabé ao concílio apostólico de Jerusalém: se os pagãos, que aceitaram o Evangelho e abraçaram a fé cristã, precisavam também passar pelas práticas da Lei Mosaica ou se bastava aceitarem a fé em Cristo e no Evangelho. Era uma questão determinante naquele início da vida da Igreja: ou a Igreja continuava sendo uma extensão da sinagoga ou começava um caminho próprio. Os apóstolos reuniram-se e decidiram, invocando o Espírito Santo, que bastava aos pagãos acolherem a fé em Cristo e a vida conforme o Evangelho. E, assim, Paulo e Barnabé, junto com algumas outras pessoas, levaram essa decisão apostólica à comunidade de Antioquia e às demais comunidades, formadas sobretudo por pagãos convertidos à fé cristã. 

É interessante perceber o método das tomadas de decisão na Igreja, lá naquele início: levantou-se uma questão grave; as comunidades discerniram e encaminharam a questão aos apóstolos. Estes discerniram, com a ajuda do Espírito Santo, e tomaram a decisão cabível. A decisão foi comunicada e acolhida, com grande alegria, levando paz às comunidades e revitalizando a missão. Hoje, diríamos que foi um método sinodal… Houve participação e comunhão, respeitou-se o carisma da autoridade apostólica, acolheu-se a decisão e a vida seguiu adiante em paz e dinamismo. Precisaríamos reaprender hoje um pouco mais essas lições presentes já na Igreja da era apostólica.

O Salmo responsorial (Sl 66/67) tinha um belo refrão: “Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor, que todas as nações vos glorifiquem!”. O significado missionário da existência da Igreja aparece claro nessas palavras. Ela existe para levar o Evangelho a todos os povos, para que a luz de Deus resplandeça para todos e as nações possam glorificar a Deus com suas obras. Após a decisão do concílio apostólico, Paulo e Barnabé puderam continuar a sua missão entre os povos pagãos, anunciando-lhes a alegria da fé e da esperança, que vem do Evangelho de Cristo. E, assim, a Igreja continuou fazendo até hoje.

Por fim, a segunda leitura, tomada do Livro do Apocalipse (21,10-14.22-23), falava da Jerusalém celeste, cidade dos redimidos, quando todas as coisas presentes tiverem passado e Deus tiver feito novas todas as coisas. A Jerusalém celeste é brilhante da glória de Deus; ela é segura e não desaparecerá nunca mais; ela está baseada sobre 12 alicerces, que são os 12 apóstolos, testemunhas de Cristo. Possui 12 portas, abertas para todos os quadrantes do universo, para que tenham acesso a ela todas as “tribos de Israel”, simbolizando toda a humanidade. Essa cidade celeste não precisa de portas, nem de guardas para a vigiar, pois os males terão desaparecido. Não possui templo nenhum, porque ela mesma é a morada de Deus e do Cristo Salvador com o seu povo. E nem precisa de sol ou de lua para a iluminar, pois a glória de Deus e de Cristo ressuscitado a ilumina para sempre.

Que imagem bonita para a Igreja plenamente redimida! É para lá que a Igreja terrestre se encaminha, como um povo de peregrinos, animados pela esperança que não desilude. Nunca devemos perder de vista essa meta grandiosa e animadora da nossa existência, como Igreja neste mundo.

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