O mês de outubro, dedicado às missões, recorda o mandato de Cristo: “Ide e fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28,19) – ordem esta que já há quase dois mil anos tem incitado a Igreja a ultrapassar fronteiras e tempos, levando o Evangelho “até os confins da terra” (At 1,8). Mais do que uma atividade entre outras, a missão é a própria identidade da Igreja: ela existe para evangelizar, porque nasceu do envio do Filho e do Espírito, e vive para prolongar no mundo o amor divino que a gerou.
Como ensina o Concílio Vaticano II, a Igreja é missionária por natureza, pois nasce da missão do Filho e do Espírito Santo (Ad Gentes, n.2). A missão, portanto, não é invenção humana, mas participação na vida trinitária de Deus. Evangelizar é deixar que Deus continue, em nós, a sua obra.
A Igreja, porém, sendo corpo vivo, realiza sua missão por meio de membros concretos. Por isso, o ardor missionário exterior deve brotar de uma fonte interior: o coração unido a Deus. Todo apostolado é superabundância de vida interior. Se o missionário fala de Cristo, é porque O ama; se O ama, é porque reza; qualquer testemunho que ele der de sua fé existe como transbordamento de sua oração.
Nenhum método pastoral substitui o primado da graça: é de corações inflamados de amor divino que nascem os verdadeiros missionários. Essa verdade, que o mundo antigo experimentou, foi expressa de modo memorável pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, na série de meditações Olhar para Cristo:
“Depois do fim da era apostólica, a Igreja antiga como tal desenvolveu relativamente poucas atividades missionárias diretas: ela desconhecia uma estratégia própria de anunciação da fé aos pagãos. Apesar disso, sua época se tornou o período de maior sucesso missionário. A conversão do mundo antigo ao Cristianismo não foi resultado de uma atividade planejada da Igreja, mas fruto da afirmação da fé tal qual se fazia visível na vida dos cristãos e na comunidade eclesiástica. Uma experiência que convida outra experiência – foi essa e apenas essa, em termos humanos, a força missionária da Igreja antiga. A comunidade vital da Igreja convidava à participação nesta vida, em que se revelava a verdade de que essa vida mesma provinha.
“Por outro lado, a apostasia da modernidade se fundamenta na não verificação da fé na vida dos cristãos. Aqui se revela a grande responsabilidade dos cristãos de hoje. Eles deveriam ser pontos de referência da fé como pessoas que ‘sabem’ de Deus, deveriam demonstrar em sua vida a fé como verdade, convertendo-se, assim, em sinais para os outros.”
O testemunho de Ratzinger ilumina o nosso tempo: a Igreja evangeliza quando a fé se torna vida, e a vida, sinal de fé. A missão começa no interior e se expande pelo testemunho; é menos um discurso do que uma presença.
Por isso, a missão não se encerra nas fronteiras de nossas comunidades. Ela é universal. A Igreja é una e católica, e se alegra e sofre com todos os seus membros espalhados pelo mundo. Enquanto celebramos nossas liturgias em paz, há irmãos e irmãs que vivem a fé sob perseguição e violência. Segundo informações publicadas por veículos internacionais como o The Washington Post e a Newsweek, mais de 7 mil cristãos foram mortos na Nigéria em 2025, unicamente por professarem o nome de Cristo. O sangue desses mártires é ainda hoje, como dizia Tertuliano, semente de novos cristãos. A Igreja missionária é também Igreja mártir.
Vivamos, pois, este mês missionário com renovado ardor eclesial. Rezemos pelos missionários e pelos cristãos perseguidos; sustentemos, com oração e generosidade, a expansão do Evangelho; e peçamos que o Espírito Santo reavive em cada um de nós a chama da fé. A Igreja que reza é a Igreja que anuncia; a Igreja que sofre é a que fecunda; e a Igreja que ama é, sempre, missionária.