O leitor talvez não saiba, mas sou engenheiro e, por força da profissão, envolvido nos assuntos da Inteligência Artificial.
Ultimamente, tenho me aprofundado também nos temas mais filosóficos, que tratam das futuras relações entre homem e máquina.
Além das novidades, que vemos todos os dias, um dos assuntos de que mais se fala nas altas rodas da IA é a chegada de uma potencial inteligência artificial capaz de substituir o homem em absolutamente tudo.
Confesso, meu lado técnico fica bastante maravilhado com isso; afinal, tenho boa noção da dificuldade técnica em se obter tal feito. Contudo, meu lado humano e, particularmente, meu lado católico, percebe tudo isso com ressalvas.
Tenho estudado os chamados “especialistas”. Tratam desses temas com classe, transparecendo um ar de muita sabedoria. Recentemente, me chamou a atenção uma visão particular sobre os potenciais riscos no horizonte das religiões. Em especial, aquelas que são baseadas em grande quantidade de textos sagrados. Adivinhem de quem podem estar falando?
Segundo a tese, não haveria homem neste mundo capaz de memorizar e responder prontamente sobre todo esse conteúdo, da forma que a IA já faz. Portanto, aqueles que ensinam tais religiões seriam facilmente superados.
Note que não são uns malucos, são os visionários mais badalados da atualidade. Mas será que podem ter razão? Quais seriam os riscos para a nossa religião católica?
Antes de analisar a tese, olhemos por um minuto o perfil dos que as estão formulando. Os tais “especialistas renomados” são, invariavelmente, ateus e claramente anticristãos. Badalados pela mídia, têm sua origem e alavanca dentro do contexto da sociedade modernista.
Mas o que isso quer dizer?
Todos possuem uma visão profundamente materialista e utilitarista da realidade humana. Para eles, só existe o material, o imanente. O transcendente é coisa de loucos. Se olharmos sob sua ótica, talvez concluamos que eles têm razão. O homem reduzido a um cumpridor de tarefas, executor de comandos ou mero repetidor de respostas exatas, poderia, sim, facilmente ser substituído por uma máquina que repetisse suas ações.
Mas sabemos que o homem é mais do que isso, é corpo e alma. Independentemente da crença, sabemos que cada um é uma criação única de Deus.
Não percebem que o universo criado por Deus é constituído de coisas visíveis e invisíveis. Tratam o universo imaterial como se não existisse.
Para esses especialistas, não há espaço para o transcendente, para o irrazoável, para o extraordinário ou para o inesperado. E parece ser exatamente todo esse campo, a grande maravilha da vida humana.
Assim, é de entender que não percebam que a religião é muito mais do que um conjunto de livros ou textos sagrados. Que um padre jamais poderá ser substituído em sua orientação, aconselhamentos e pelo múnus de seu sacerdócio. Tampouco haverá uma inteligência artificial capaz de viver ou explicar o mais profundo da fé.
Além disso, enquanto debatem a chegada de uma inteligência superior, sua visão limitada não é capaz de ver que, fora do tempo, Deus possa agir em nosso favor por meio da sua graça.
Tenho para mim que haverá um momento em que Deus precisará intervir na história do homem de forma definitiva, quando chegarmos a um nível de caos e confusão do qual não conseguiremos achar saída.
Talvez a Inteligência Artificial seja esse “botão de acionamento” dessa intervenção, quando estivermos no meio desta confusão, sem conseguir distinguir o que é verdade do que é mentira, o real do irreal.
Então, quando vier essa inteligência artificial superior determinando o que devemos fazer, esse novo deus do Iluminismo, talvez Deus decida nos socorrer com sua graça.
De nossa parte, devemos nos manter vigilantes, orantes e conhecedores da verdade que é Cristo. Senão, até mesmo nós, “os filhos da luz”, seremos enganados.