A pedagogia do encontro

Queremos começar este artigo fazendo referência à atividade pública de Jesus no Evangelho segundo João (1,29). Pode-se perceber no relato uma busca e um seguimento: dois discípulos que escutaram o Batista e começaram a seguir Jesus sem dizer nenhuma palavra (cf. PAGOLA, José. O caminho aberto por Jesus, 2013, p.41). Há algo Nele que os atrai, embora ainda não saibam quem Ele é e para onde os levará. Num determinado momento, Jesus se volta e lhes faz uma pergunta: “Que buscais?” (Jo 1,38). Aqueles dois discípulos ainda não conseguem imaginar aonde pode levá-los a aventura do seguimento de Jesus, mas intuem que Ele pode ensinar-lhes algo que ainda não conhecem, por isso respondem à pergunta de Jesus com outra pergunta: “Mestre, onde moras?” (Jo 1,38). Para seguir Jesus, não basta se dispor apenas daquilo que escutamos os outros dizerem Dele; faz-se necessário uma experiência pessoal com Ele. Afinal, não se pode caminhar atrás de Jesus de qualquer maneira.

Vale destacar aqui as riquezas que existem por trás das perguntas que nos narram as Escrituras: elas escondem tesouros e nos abrem à revelação (RONCHI, Ermes. Le nude domande del Vangelo, 2017, p.9); espiritualmente, as perguntas são ricas da presença de Deus. As perguntas nos abrem ao novo, são como que um dom, um maná para o nosso peregrinar à terra prometida (Idem, p.13). Com a pergunta “que buscais?”, o Senhor nos faz entender que nos falta alguma coisa, afinal, as nossas buscas nascem sempre de faltas e necessidades, de uma espécie de vazio que pede para ser preenchido (Idem, p.14-15).

Quando alguém não busca nada na vida e se conforma em “ir levando,” ou ser um “vivedor”, não é possível encontrar-se com Jesus. O importante não é buscar algo, mas buscar alguém (PAGOLA, José. O caminho aberto por Jesus, 2013, p.42). Os discípulos não buscam encontrar Nele grandes doutrinas ou sábias filosofias, mas querem que Ele lhes mostre onde Ele vive, isto é, onde é a sua casa. Em outras palavras, os discípulos querem aprender de Jesus o que significa viver. A resposta do Senhor é “vinde e vede” (Jo 1,39). Ele não lhes oferece nenhuma explicação nem nenhuma condição, apenas convida-os: “Percorrei o meu caminho”.

Jesus continua se dirigindo a cada um de nós com a pergunta que nos remete ao nosso coração: “O que estais buscando?”.Sua pedagogia é a pedagogia da pergunta que nos movimenta a fazer um percurso interior e a nos encontrarmos com a fonte que nos inspira e nos alimenta. Com seu modo de perguntar, vai nos libertando dos nossos enganos, dos nossos medos e dúvidas que muitas vezes atrofiam e bloqueiam a nossa vida.

A pergunta de Jesus nos tira da mediocridade e nos coloca novamente em movimento de busca. Quando o Senhor fala, Ele não interroga nossa cultura, competência ou teologia, mas nossa humanidade (RONCHI, Ermes. Le nude domande del Vangelo, 2017, p.15). Deixar-se atingir pela pergunta: “O que buscais?”, significa tomar consciência de que nós não estamos prontos, mas vivemos em uma continua peregrinação, em um contínuo ser de passagem. Somente quando acolhemos a pergunta de Jesus em nossa vida é que percebemos como é inacabada nossa existência e o quanto ainda temos que caminhar. Quando a pergunta ressoa no mais íntimo de nós, descobrimos a nossa autêntica forma de ser, isto é, nossa identidade. A pergunta nos arranca da surdez de nós mesmos e nos faz capazes de escutar o que o barulho do dia a dia esconde e abafa; ela nos desperta e nos faz sair do discernimento que confunde.

Nesse sentido, a busca que Jesus desperta em nós, nos orienta para o interior. Por isso, é importante que aprendamos a escutar o nosso “mestre interior”, pois o que buscamos é o nosso “eu verdadeiro”, nosso “eu profundo”, nossa identidade original. Isso faz crescer em nós o desejo do encontro que se converte na força determinante para se manter sempre em um caminho de busca. Vale buscar o que é importante e encontrar Aquele que responde às questões mais profundas de nossa busca. Assim sendo, é preciso aceitar e viver a busca de Deus; é a Ele que se deve buscar. A busca é, portanto, um dinamismo da mente e do coração, é “entrar no território onde Jesus vive”.

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Monica
Monica
9 meses atrás

Muito bom artigo ! Busca constante onde Jesus vive …no coração junto com nossa mente através da razão nos leva a caminhar rumo a santidade ,com humildade , aprendendo sempre 🙏🙏

Marília de Fátima Souza Amorim da costa
Marília de Fátima Souza Amorim da costa
9 meses atrás

Buscar Jesus todos os dias, fortalecendo nossa fé, principalmente através da Palavra de Deus que é nossa luz e alimento diário. Viver à Fé nunca foi tão difícil. Vivemos em tempos de trevas, perseguições aos cristãos, guerras, terremotos, tentações demasiadas, mas jamais devemos desistir de vivermos a fé cristã em sua plenitude. Devemos entregar é confiar. Participar da igreja, rezar em família e buscar o engajamento na Comunidade. Buscar Jesus é tarefa de todos nós e missão diária.