Uma questão muito presente na atualidade diz respeito ao espaço que as religiões ocupam na sociedade. Áreas epistemológicas, como Antropologia, Sociologia, Política, Economia e outras debruçam-se em pesquisas para buscar um entendimento mais claro sobre a participação das religiões na vida das pessoas.
Alguns estudiosos trabalham com a ideia de que a secularização tem ocorrido com velocidade maior nestas últimas décadas. Mais firmemente é apontado que temos um novo deus: o mercado. Um deus que é orientação e finalidade para a sociedade. Que diz que a razão nos basta e nosso agir pode ser orientado unicamente pela nossa capacidade de tirar conclusões sem a necessidade de algo superior, bastando o material.
Essa linha de pensamento tem algo de sedutor para muitas pessoas, afinal não é mais necessário esperar a vida eterna após a morte para alcançar o paraíso, mas ele está ao seu alcance quando você tem “sucesso”. Dentro da vida seria possível, por meio do consumismo, alcançar todos os seus desejos.
Não há mais culpa em ter; a culpa é “não ter”. Chega a ser admitido que o mercado tem atributos da “onipotência, onipresença e onisciência”. Hoje, o psicólogo de plantão é um bom centro de compras, de preferência caro. Assim, quando nos sentimos chateados, infelizes, para baixo, a recuperação vem com o consumo, nada de consciência. Interessante que alguns apontam semelhanças arquitetônicas entre os shopping centers e as catedrais. O mercado se torna ele próprio um fenômeno religioso, que se desenvolve de modo parasitário a partir de princípios cristãos.
Podemos até mesmo admitir que em nossos templos temos muitas rupturas, com certo espaço para a dessacralização do religioso. Mas admitir que é perceptível de maneira evidente que o deus mercado toma lugar e que esse é o caminho para a modernização da própria religião não é algo possível de ser admitido muito facilmente.
A idolatria ao dinheiro e ao mercado foram temas tratados por São João João Paulo II, na Centesimus Annus, 34-36; Ecclesia in Europa, 87. Por sua vez, Bento XVI trata a temática na Encíclica Caritas in Veritate (CV 35-37), apontando que “o mercado não consegue gerar a coesão social de que necessita para bem funcionar. Sem formas internas de solidariedade e de confiança recíproca, o mercado não pode cumprir plenamente a própria função econômica.” Mais recentemente, o Papa Francisco enfatiza que devemos rejeitar a nova idolatria do dinheiro e que vivemos uma “crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criamos “novos ídolos” e que “reduzem o ser humano apenas a uma das suas necessidades: o consumo” (Evangelii Gaudium, 55-58).