A sabedoria do velho Papa e a esperança dos jovens

É um lugar comum dizer que crianças pequenas gostam de idosos — e não estamos pensando só em netos e avós… Nesse mesmo senso comum, a adolescência e a juventude são o tempo da quebra desse vínculo, quando passamos a renegar a experiência dos mais velhos e nos rebelamos contra suas ideias. 

Na contramão dessa imagem da relação entre velhos e jovens, todos os últimos papas contaram com sua legião de admiradores jovens. Sem dúvida, os carismáticos São João Paulo II e Francisco mobilizam muito mais a juventude do que o circunspecto Bento XVI – mas mesmo esse não deixa de ter uma pequena multidão de admiradores jovens. 

Na verdade, assim como as crianças buscam a ternura e a compreensão dos idosos, também os jovens querem o testemunho e a sabedoria dos mais velhos. A juventude rechaça o pragmatismo, o pessimismo e, forçoso reconhecer, até a hipocrisia do mundo adulto. 

Os jovens não querem ouvir alguém que lhes diga que seus ideais são ilusórios, que seus desejos não podem se realizar ou que o mundo nunca será melhor. Querem, ardentemente, encontrar velhos que lhes testemunhem que continuaram lutando sempre, apesar das desilusões, que lhes digam que os sonhos e ideais têm, sim, valor. Idosos que, com sua sabedoria, não lhes digam que as coisas são assim mesmo, mas, sim, apontem um caminho no qual eles poderão seguir rumo a um futuro melhor. 

Em tempos amargos, com pandemias, guerras, ressentimentos e ódios crescentes, lideranças desacreditadas e realismos cínicos, Francisco foi se tornando, cada vez mais, um sinal de esperança, o velho sábio que não proclama a resignação, mas que conclama para a construção desse futuro melhor. Para os jovens de hoje, Francisco é aquele que não esquece os mais fracos, os excluídos e os sonhos descartados em nome do pragmatismo; mas nem por isso perde um olhar de ternura, a paciência e a sabedoria que acolhem e incentivam os jovens a seguir pela estrada do bem comum. 

Essa é a razão do sucesso da “Economia de Francisco”, um processo nascido de uma intuição do Papa, há quatro anos, e que acontece presencialmente em Assis, de 22 a 24 de setembro. Os organizadores da iniciativa gostam de se referir a ela como um “processo”, justamente para indicar que se trata de uma proposta aberta, de diálogo, que não quer se fechar a ninguém, que está aberta a todos que querem construir o bem comum. 

O Papa não usou a expressão “Economia de Francisco” para se referir a si mesmo, e sim para indicar o santo de Assis do qual ele tomou o nome. Sua ideia é que o espírito franciscano de amor aos pobres e à natureza, que inspirou Bergoglio, também ajude os jovens a encontrar caminhos de construção de uma economia alternativa e de um mundo melhor. 

Em tempos tão polarizados como os nossos, é evidente que os grupos políticos tentarão instrumentalizar uma proposta como essa, alguns tentando usá-la como sua, outros tentando denegri-la para se afirmar na oposição. Também pode ser esperado que a raiz cristã, totalmente evidente e explícita no pensamento de Francisco, se confunda em meio a tantas vozes vindas de diferentes lugares que se reúnem atraídas pelo carisma de Francisco. 

Cabe a todos nós, católicos, velhos ou moços, de esquerda ou de direita, não deixarmos que a luz da sabedoria da Igreja, que sempre ilumina aos que procuram segui-la de coração sincero, se perca nesse contexto. 

Francisco aponta para um caminho de construção do bem comum, para um testemunho de ternura, para o anúncio de uma verdadeira esperança. Os jovens do mundo percebem essa luz e se aproximam dela. Cabe aos católicos dar também eles o seu testemunho, para que a mensagem de Cristo não se perca em meio aos desgostos e aos contratestemunhos que nos afligem. 

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários