A Sagrada Escritura: fonte primeira da espiritualidade cristã

Neste mês de setembro, dedicado no Brasil à Bíblia, na qual está contida a Palavra de Deus (cf. Dei Verbum-DV, n.9), somos convidados a conhecer, amar e fazer da Sagrada Escritura a base de toda a nossa espiritualidade cristã.

A Escritura, em seu sentido radical, projeta e promove uma experiência vital e espiritual, pois ela é a fonte primária de toda a espiritualidade cristã, de modo mais particular em quatro níveis, a saber: histórico-salvífico, existencial, cristológico e pneumatológico.

No nível histórico-salvífico, a Sagrada Escritura oferece à vida espiritual uma série de indicações das diversas fases nas quais a história da salvação se desenvolve; é também nesse nível que se destaca a relação de aliança entre Deus e os homens: a aliança se torna um ato de predileção e de amor gratuito; é, em outras palavras, a experiência religiosa de comunhão de Deus com o homem e do homem com Deus como pacto de vida, aliança existencial e total que culmina na encarnação do Filho Jesus que estabelece, por fim, a autocomunicação de Deus. Esta perspectiva relacional por meio da aliança também se faz presente no Novo Testamento: a nova aliança é realizada em Cristo, não apenas no sentido de que Cristo é o proclamador de uma nova aliança, mas no sentido de que a nova aliança é a própria pessoa de Jesus. Nele, no ser do Cristo, o humano e o divino se encontram; Jesus é o dom que Deus faz de si ao homem e que o homem se faz a Deus, em resposta.

No nível existencial, a Sagrada Escritura se torna para a pessoa diálogo e apelo: diálogo, enquanto a convida a tomar consciência de sua importância, respeitando a identidade pessoal e cultural de cada um; apelo, enquanto tende a provocar no homem respostas fortes e radicais. Assim, a Sagrada Escritura, desígnio de Deus, tem a “função” de impulsionar o homem a confrontar a sua vida pessoal e espiritual na realidade concreta em que está situada.

No nível cristológico, a Sagrada Escritura faz com que as experiências de fé vivenciadas pela pessoa tenham o ensinamento e a obra de Cristo como centro. “Depois de ter falado muitas vezes e de muito modos pelos profetas, falou-nos ultimamente, nestes nossos dias, por meio de seu Filho” (DV, n.4).

Por fim, o nível pneumatológico apela à consciência daquele que lê a Sagrada Escritura fazendo com que este sinta o Espírito Santo (DV, n.11) enviado por Jesus Ressuscitado, que age no caminho de fé dos crentes. Assim, o Espírito Santo põe em destaque o caráter dinâmico e criativo da Sagrada Escritura, propondo novas experiências e surpresas àqueles que se dispõem a escutá-la, fazendo da sua vida uma profunda comunhão de fé. Nessa experiência, o Espírito Santo deixa traços do seu próprio ser e de suas obras, a fim de que o cristão, ouvinte e participante da Palavra de Deus, nasça de novo: “O vento sopra onde quer, e ouves o seu ruído, contudo, não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito” (cf. Jo 3,8). A Sagrada Escritura se torna o elemento, de fato, essencial para a vida espiritual.

Portanto, a Sagrada Escritura é um convite direto ao encontro com a Santíssima Trindade e suscita aquela resposta espiritual que muito frequentemente é para nós o início e a consolidação da vida espiritual pessoal. Desse modo, a Sagrada Escritura faz da espiritualidade cristã um convite ao seguimento de Jesus, custodiado pelo silêncio que permite a escuta da Sua Palavra, sem se desconectar das estruturas comunitárias e históricas nas quais o sujeito nasce e se desenvolve.

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