Advento: espera, conversão e esperança no Mistério da Encarnação 

O Advento é um dos tempos mais ricos do ano litúrgico, marcado por uma espiritualidade profunda de espera, conversão e esperança. A palavra adventus significa “vinda”, e remete ao duplo movimento da fé cristã: a recordação da primeira vinda de Cristo na humildade de Belém e a expectativa de sua segunda vinda gloriosa no fim dos tempos. Entre essas duas vindas, os fiéis são convidados a reconhecer as “vindas intermediárias” de Cristo, que se manifesta continuamente na Palavra, nos sacramentos e na vida da Igreja. 

A Sagrada Escritura ilumina toda a espiritualidade do Advento. O profeta Isaías, chamado de “evangelista do Antigo Testamento”, anuncia a esperança messiânica: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Is 9,1). Esse anúncio se cumpre no nascimento de Jesus, a Luz do mundo (cf. Jo 8,12). Já João Batista, figura central deste tempo litúrgico, proclama: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas” (Lc 3,4). A espiritualidade do Advento, portanto, não se limita a uma espera passiva, mas convida à conversão do coração, à vigilância e à prática da caridade, para acolher Aquele que vem. 

São Bernardo de Claraval, ao refletir sobre o Advento, distingue três vindas de Cristo: a histórica, na Encarnação; a espiritual, na alma do fiel; e a gloriosa, no fim dos tempos. Essa tríplice dimensão mostra que o Advento é um tempo de encontro: Deus vem sempre ao encontro do homem, e o homem é chamado a abrir-se a essa presença transformadora. O magistério da Igreja reforça essa espiritualidade de espera ativa e esperança confiante. O Catecismo da Igreja Católica ensina que “ao celebrar anualmente o Advento, a Igreja atualiza essa expectativa do Messias: participando da longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo de sua segunda vinda” (cf. CIC, n. 524). Assim, o Advento educa o coração para viver na tensão entre o “já” e o “ainda não” do Reino de Deus. 

São João Paulo II, em uma de suas homilias no tempo do Advento, sublinhou que este tempo “é uma escola de esperança cristã”. Para ele, a espera do Senhor não é uma fuga do presente, mas um olhar que transforma o hoje à luz da eternidade. O Papa Bento XVI, em sua encíclica Spe Salvi, aprofunda essa visão, afirmando que “quem tem esperança vive de modo diferente; foi-lhe dada uma vida nova” (n. 2). O Advento, assim, reacende essa virtude teologal que sustenta a vida cristã, mesmo nas provações. O Papa Francisco, por sua vez, insiste na dimensão missionária e existencial do Advento. Em uma de suas homilias, afirmou: “O Advento é o tempo para deixar-se surpreender por Deus, que vem ao nosso encontro na simplicidade da vida diária.” Para ele, a vigilância e a ternura são atitudes próprias deste tempo: vigiar é manter o coração desperto, e a ternura é o modo concreto de acolher o Emanuel, o “Deus conosco”. 

A espiritualidade do Advento, assim, é marcada por três notas essenciais: a espera vigilante, a conversão interior e a esperança ativa. Espera, porque o cristão vive voltado para a vinda do Senhor; conversão, porque preparar o caminho exige mudar o coração; e esperança, porque Deus é fiel às suas promessas. A liturgia exprime essa espiritualidade por meio dos símbolos e das leituras. A cor roxa recorda a penitência e o recolhimento; a coroa do Advento, com suas velas acesas progressivamente, simboliza a crescente luz de Cristo que vence as trevas; as leituras bíblicas falam da promessa messiânica e da figura de Maria, mulher da espera e da esperança. Maria é, de fato, o ícone perfeito da espiritualidade do Advento. Em seu fiat, ela acolhe a Palavra e se torna Mãe do Salvador. Como ensina São Paulo VI na Marialis Cultus (n. 3), “Maria é o modelo da Igreja na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo”. Olhar para Maria é aprender a viver o Advento com o coração aberto e confiante, como quem espera o nascer de um novo tempo. 

Em síntese, o Advento é um tempo de profunda espiritualidade, que convida o cristão a renovar sua fé, a purificar o coração e a reacender a esperança. É o tempo da promessa que se cumpre, da luz que desponta e do Deus que se faz próximo. Celebrá-lo é redescobrir que, em cada espera, Deus vem – e vem sempre para transformar. 

Deixe um comentário