Alguém dentre vós está doente?

No dia 11 de fevereiro, festa de Nossa Senhora de Lourdes, a Igreja também celebra o Dia Mundial dos Enfermos. O lugar das aparições de Maria Imaculada em Lourdes, na França, recebeu e continua recebendo todos os anos uma multidão de pessoas enfermas, que procuram saúde junto da fonte milagrosa. Há muitos relatos de curas conseguidas naquele lugar, sob o olhar e a intercessão de Nossa Senhora.

Esse é o motivo pelo qual o Dia Mundial dos Enfermos está ligado à festa de Nossa Senhora de Lourdes. Nessa ocasião, o Papa envia à Igreja e ao mundo todos os anos uma bela mensagem, abordando alguma questão relativa ao cuidado dos enfermos. Em 2024, a Mensagem traz o sugestivo título: Não é conveniente que o homem esteja só (cf. Gn 2,18). Lembra a criação da mulher, no início da existência humana. Dando-se conta da solidão de Adão, que não achou entre as outras criaturas nenhuma que lhe fosse semelhante, Deus decidiu: “Não é bom para o homem estar só. Façamos para ele uma companheira”. E, assim, Deus criou Eva, entregando-a a Adão, que exclamou: “Agora, sim, é carne da minha carne, osso dos meus ossos”.

Não é sobre a criação da mulher que o Papa trata em sua mensagem para o Dia dos Enfermos, mas aproveita o motivo que inspirou a criação da companheira do homem: a solidão humana. Essa pode ser fruto de uma escolha livre para se recolher, rezar ou tomar alguma decisão importante na vida. Mas a solidão não é coisa boa e pode acabrunhar as pessoas quando é fruto do abandono, do descaso e do descarte. Nesses casos, a solidão é muito triste e faz sofrer. É bem disso que o Papa fala em sua mensagem: à solidão desencadeada pela suspeita, as fraturas, divisões e consequente isolamento, pelo desprezo, a humilhação, a vingança e a chantagem. Observa que essa solidão atinge a pessoa “em todas as suas relações: com Deus, consigo mesma, com o outro, com a criação. Tal isolamento faz-nos perder o significado da existência, tira-nos a alegria do amor e faz-nos provar uma sensação opressiva de solidão nas sucessivas passagens cruciais da vida”.

E quando se trata dos enfermos, a solidão é muito dura, sobretudo quando decorre de descaso, abandono, descarte social e econômico. O enfermo sofre com sua doença e sente a fragilidade da vida, que pode estar “por um fio”. A enfermidade faz a pessoa experimentar seu limite; muitas vezes, e a solidão diante da impossibilidade de se comunicar e de se expressar; o enfermo sente que depende em tudo dos outros e que pode estar no limite de sua vida; que ninguém mais pode fazer nada por ele. Essa solidão pode ser fecunda quando o enfermo se encontra com Deus e se entrega a Ele com fé, confiança e esperança. Para dar esse passo, em vez de cair no desespero e na fria resignação, ele necessita de ajuda. Quanto faz bem uma oração junto do doente, a leitura de um trecho da palavra de Deus, uma boa palavra, um encorajamento. Ou mesmo apenas a presença, segurando a mão, sem dizer nada, mas dando ao enfermo a certeza de que ele não está só nesse período delicado, mas precioso, de sua vida.

Em nossa Arquidiocese, temos agora o Vicariato Episcopal para a Pastoral da Saúde e dos Enfermos para organizar e acompanhar melhor o cuidado pastoral dos doentes e também o zelo pela saúde. Temos muitos hospitais e outras estruturas de saúde na cidade de São Paulo, onde há dezenas de milhares de enfermos buscando saúde ou o alívio de seus males. Além disso, há muitos enfermos e idosos nas casas das famílias, que precisam ser acompanhados pela Igreja com o amor pastoral de Jesus, que sempre foi atencioso para com os doentes. Só posso incentivar que o serviço aos enfermos seja uma das prioridades pastorais em nossas comunidades. E deve ser assim, pois foi uma das recomendações mais fortes de Jesus, quando enviou os discípulos em missão: “Curai (cuidai) os enfermos”.

Dirigindo-se aos enfermos, o Papa os conforta: “A vós que vos encontrais na doença, passageira ou crônica, quero dizer-vos: Não tenhais vergonha do vosso desejo de proximidade e ternura. Não o escondais e nunca penseis que sois um peso para os outros. A condição dos doentes convida a todos a abrandar os ritmos exasperados em que estamos imersos e a reentrar em nós mesmos.”

E exorta a todas as famílias e comunidades da Igreja: “Os doentes, os frágeis, os pobres estão no coração da Igreja e devem estar também no centro das nossas solicitudes humanas e cuidados pastorais. Não os esqueçamos!” Isso lembra a mesma exortação, que ressoou já nos primeiros tempos da Igreja: “Alguém dentre vós está enfermo? Mande chamar os presbíteros da Igreja, para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o reerguerá. E, se tiver cometido pecados, o Senhor o reerguerá” (Tg 5,14-15).

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