Na semana iniciada no dia 6 de julho, os seminaristas da arquidiocese de São Paulo realizam sua “missão de férias”, como vem acontecendo há mais de 15 anos. Visitam casas e famílias, confortam doentes, abençoam as habitações, oferecem momentos de formação para agentes de pastoral, conhecem trabalhos sociais e ações com os pobres e têm contato próximo com a situação do povo. E os diáconos seminaristas fazem um estágio missionário de dois meses em dioceses da região amazônica, em contato com realidades humanas e eclesiais bem diferentes das que conhecem na cidade grande.
Trata-se de experiências enriquecedoras na formação dos futuros sacerdotes, que deverão exercer o ministério sacerdotal com forte orientação missionária. A Igreja é missionária por vontade de seu próprio Fundador, e os sacerdotes, que estão a serviço do sacerdócio de Cristo em favor da humanidade, participam da preocupação missionária do Mestre. Todo sacerdote também é um missionário e deve animar na dimensão missionária a comunidade eclesial que lhe é confiada. O anúncio missionário é a primeira missão da Igreja em todos os níveis de sua organização.
Durante a sua vida pública, Jesus escolheu e enviou 72 dentre seus discípulos e os enviou à sua frente, dois a dois, para as aldeias e cidades por onde ele haveria de passar (cf Lc 3,1-12). Eles deviam anunciar a Boa Nova da chegada do Reino de Deus, convidando todos a acolherem esse belo anúncio. Ao mesmo tempo, Jesus deu-lhes poder para curar os enfermos e autoridade sobre os demônios. Jesus não lhes prometeu vida fácil, nem conforto, mas uma grande recompensa no céu. Foi um primeiro envio missionário, como se fosse um treinamento para aquilo que os apóstolos, depois da ressurreição, receberam como missão perene.
Após a sua ressurreição, antes de se elevar para o céu e de entrar na glória de Deus, Jesus enviou os apóstolos em missão, com a recomendação de ir a todos os povos, até os extremos limites da terra. Jesus os encarregou novamente de anunciar o Evangelho “a toda criatura”, de batizar a quem cresse e de cuidar dos enfermos. Esse envio missionário definitivo é acompanhado de mais uma recomendação: “Vós sereis minhas testemunhas em Jerusalém, na Samaria e até os extremos limites da terra” (At 1,8). Os mensageiros e testemunhas de Jesus Cristo devem anunciar o Evangelho e não deixar cair no esquecimento sua pessoa, sua mensagem, sua obra e tudo o que Ele significa e promete para o mundo.
Desde os Apóstolos e ao longo dos séculos, a Igreja fez isso, com maiores ou menores dificuldades, em tempos de paz e tempos de perseguição e martírio. Também é isso que todos nós, que cremos em Cristo e o seguimos, devemos fazer hoje. Como em outras épocas no passado, percebemos que há um amplo déficit de evangelização, mesmo entre aqueles que já foram batizados, mas se encontram distantes da prática da vida cristã e eclesial. Por isso, todas as comunidades da Igreja, animadas e servidas por seus sacerdotes, precisam passar de uma ação evangelizadora apenas de “conservação”, para uma profunda “renovação”, por meio de um amplo esforço missionário no seio dessas mesmas comunidades.
Conforta constatar que já aparecem frutos desse esforço de nova evangelização na nossa Igreja. Recebo informações de paróquias sobre um aumento de jovens e adultos que procuram a Igreja e fazem um caminho de iniciação e aprofundamento na vida cristã. Sinal disso é o crescente número de jovens e adultos que buscam os Sacramentos da Eucaristia e da Crisma. A evangelização da Igreja não pode ser um anúncio apenas vago, sem referência a Jesus Cristo, ao Evangelho, à vida eclesial, aos sacramentos e à vida moral. É verdade que há um processo gradual e pedagógico na iniciação e inserção na vida cristã, que vai do anúncio ao despertar da fé; do encontro pessoal com Jesus Cristo Salvador e com Deus Pai à acolhida dos dons de Deus mediante a participação na comunidade de fé; da experiência da oração às consequências morais da vida segundo o Evangelho. A evangelização envolve a dimensão pessoal e comunitária das pessoas.
A ação missionária e evangelizadora é uma urgência e um dever de todos os membros da Igreja, cada um segundo o dom recebido de Deus. Mais que tudo, porém, é uma graça e um privilégio colocar-se a serviço do anúncio e do testemunho do Reino de Deus, que já se faz presente no mundo, mas também ainda permanece uma promessa de Deus. O esforço por evangelizar e testemunhar a fé cristã deveria ser um transbordamento da alegria que se experimenta por ter conhecido Jesus e o Evangelho do Reino de Deus já nesta vida. E nunca deveríamos esquecer o que Jesus prometeu aos 72 discípulos, quando voltaram da missão e contaram a Jesus tudo o que haviam feito: “Contudo, não vos alegreis porque os maus espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu” (Lc 10,20). Pode haver recompensa maior para os missionários e testemunhas de Jesus Cristo?