Conforme vamos vivendo a vida católica, acabamos nos acostumando a certas expressões sem pensarmos muito em seu real significado. Isso acontece com termos como “vontade de Deus” ou “vocações”.
No mês de agosto, como sabemos, celebra-se o “mês das vocações”, e a cada semana, celebramos uma vocação diferente: sacerdotal, matrimonial, religiosa e leiga.
Ao analisar esses termos, gosto sempre de remeter ao dicionário. Para “vocação”, encontramos a seguinte definição: “Tendência ou inclinação natural que direciona alguém para uma profissão específica”, quando dizemos que alguém “nasceu com a vocação para a música”, por exemplo.
Mas há também outra definição: “Ação ou efeito de chamar, de invocar, de denominar (-se).”.
Assim, parece que a vocação a que nos referimos neste mês é uma mistura das duas. Afinal, não há dúvidas de que se trate de uma inclinação a um tipo de vida específica, mas, também, de um chamado divino para vivermos nossa vida, “segundo a Sua vontade”. O que nos leva de volta à primeira expressão: “vontade de Deus”. Nas minhas aulas de catequese, eu me preocupo quando usamos essas expressões “sem pensar”. Para a “vontade divina”, costumo fazer paralelo com outro termo que parece mais fácil de visualizar: “sonho de Deus”.
O termo “plano” parece se assemelhar apenas a um frio esquema de ações, enquanto “sonho” parece um desejo amoroso de quem quer o nosso bem.
Em vez de dizer “qual o plano de Deus para a sua vida?”, diríamos “qual o sonho de Deus para a sua vida?”.
Mas afinal, o que isso tudo tem de relação com as vocações?
Penso que, em sua perfeição, Deus tem, sim, um “sonho” para toda a humanidade, e que esta seria a soma de todos os “planos” individuais. Assim, de forma simplista, se todos seguissem o “plano de Deus”, o mundo seria cada vez mais parecido com o plano divino.
Mas não é tão simples.
A começar por nós. Sabemos quantas vezes já fomos arredios aos planos de Deus. Afinal, não são de aceitação obrigatória. Se, diante do livre arbítrio, não somos obrigados sequer a amá-Lo, por que seríamos obrigados a fazer a Sua vontade?
Por outro lado, se sabemos que Deus é a fonte de todo amor, por que fazemos o que é contrário àquilo que o próprio Deus achou ser o melhor para nós? Por causa do nosso pecado.
Não pretendo sacar outra expressão e falar da “concupiscência”. Basta lembrar o que disse a serpente aos nossos primeiros pais, ao tentar convencê-los a comer do fruto proibido: “Sereis como deuses”.
Sabemos que eles o comeram, e que seu efeito ainda é sensível em nós. Achamos que somos “conhecedores do bem e do mal”, e agindo “como deuses”, acreditamos no “conto da serpente” de que possamos saber mais do que Deus, sobre o que é o melhor para nós.
E é aqui que começam os nossos problemas diante do grande plano de Deus para a humanidade.
À medida que um de nós se afasta do seu “plano de Deus individual”, todo o bem e influência que teríamos sobre os demais acabam prejudicados. Assim, ao resistirmos individualmente, total ou parcialmente, ao nosso “plano divino”, vamos como que prejudicando o grande plano de Deus para a humanidade. Não é difícil perceber que isso acontece, e como a humanidade vai mal.
Na mesma linha, se olharmos para o nosso pequeno microcosmo da Igreja local, vemos a mesma situação. Para alguns de nós, Deus “sonhou” o sacerdócio; para outros, o ministério “leigo” da catequese; para outros, a vida exemplar do “matrimônio”, e assim por diante.
Quando qualquer um de nós exerce com alegria e dedicação esse “plano”, vamos como que colaborando com Deus para o sucesso de seu plano no outro.
Pensemos o quanto um sacerdote de vida santa é capaz de fazer por sua comunidade, mas também o quanto uma comunidade santa e orante é capaz de fomentar e santificar novas vocações. Por isso é tão importante rezarmos pelas vocações uns dos outros, para que Deus realize em nós tudo o que Ele sonhou.