Nestas últimas semanas, o mundo parou para acompanhar o Conclave, até o surgimento de Leão XIV na Loggia delle Benedizioni.
Acompanhamos a história se desenrolando diante dos nossos olhos. A repetição de um dos momentos mais sublimes da nossa Santa Igreja, a adição de mais uma pedra da sucessão apostólica em seu Santo Edifício.
Mas não fomos apenas nós, católicos, que acompanhamos. Vimos os noticiários das maiores emissoras do mundo colocarem toda a atenção sobre essa sucessão. Vimos âncoras de telejornais de vários países transmitindo diretamente da Praça São Pedro.
Nas mídias sociais não foi diferente. Todos alteraram suas programações, colocando como assunto central a eleição do sucessor de Pedro. Vi pagãos, protestantes, ateus e pessoas de todas as estirpes comentando, parecia não haver outro assunto relevante.
Para nós, católicos, pode parecer normal, afinal nós mesmos mudamos nossos hábitos para acompanhar tudo com toda a atenção. Contudo, se pararmos para pensar, algo parece estar errado.
Por que estão todos tão atentos a isso? A maioria dos que ali estão não são católicos. Muitos deles, inclusive, são críticos ferozes da Santa Igreja de Roma e defensores de ideais e ideologias absolutamente contrários à doutrina de nossa Igreja.
Não seria mais coerente simplesmente ignorar o tema, fingindo que nada está acontecendo ou, então, seguir noticiando lateralmente os acontecimentos, sem colocar o tema no centro das atenções?
A resposta a que quero chegar vai muito além das desculpas dadas por todos. Não se trata da importância histórica, do interesse do público ou da relevância geopolítica do assunto. Trata-se de algo muito mais profundo.
Voltando um pouco à catequese: o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Essa “imagem e semelhança” é uma propriedade essencial do ser humano, e como parte da sua essência, não pode ser extirpada.
Não importa a cor, raça, nacionalidade ou crença. Católicos e pagãos possuem em si essa mesma essência imutável, o que para muitos é motivo de grande alegria e, para tantos, de grande sofrimento.
É por força dessa “centelha da imagem com Deus” que sentimos essa irresistível atração pela Verdade e pelo Amor. É por causa dela que, como os discípulos de Emaús, sentimos nosso coração aquecer diante da proximidade com o Criador.
Os menos afortunados, distantes do Senhor, lutam com ardor para se manterem assim. Justificam seus atos dispensando grande energia, apenas porque querem se manter distantes.
Os mais empenhados em se manter assim acabam por nutrir um ódio furioso contra tudo o que os lembra dessa atração irresistível, contra tudo o que é mais sagrado: a Igreja, a família, as crianças no ventre materno.
Nessa rota, acabam se revestindo de um último obstáculo intransponível articulado pelo inimigo de Deus: um escudo de ódio contra o Criador.
Mas há um problema. O desejo por Deus é impulsionado por essa nossa “essência imutável” da “imagem e semelhança”, o que nos causa inquietude, como bem percebeu Santo Agostinho, e é próprio falar dele diante do novo Papa: “Fizeste-nos para Ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não repousa em Ti.”
E é justamente aí que temos duas escolhas: ou encontramos a nossa salvação ou embarcamos em uma luta sofrida e inglória contra aquilo que está em nós mesmos.
Mas o que tudo isso tem a ver com o Papa? Se, individualmente, vivemos essa realidade diante do Sagrado, na sociedade enfrentamos o mesmo desafio.
A Igreja é o sinal inquestionável. Um farol ofuscante da presença da Santíssima Trindade, por meio do Espírito Santo, entre nós. Mesmo aqueles que não conseguem formular conscientemente isso, o sabem em seu interior mais profundo.
A Igreja de Cristo é essa “entidade incômoda” que nos faz lembrar dessa nossa essência, de nosso desejo pela Verdade. Santo Agostinho enxergou isso também: “Eis que habitavas dentro de mim, e eu fora te procurava; retinha-me longe de Ti aquelas coisas que não existiriam, se em Ti não fossem.”
Para os que optaram por negar a Cristo, seria bom que a Igreja nem existisse, mas existe. Ao ver que não é possível destruí-la, então desejam que ela se torne mais palatável ao mundo, seja menos exigente na moral, mais conivente com o pecado.
Na sua utopia, quem sabe pudesse permitir que pequem em paz, o que os ajudaria a calar essa voz que insiste em lembrá-los da Verdade irresistível, que lutam tão loucamente em se afastar.
Esperavam um sucessor escolhido por homens, mas como sempre, nos foi enviado um escolhido por Deus. Bem-vindo, Papa Leão XIV!