Estamos no início de mais um ano pastoral, que sucede ao encerramento do sínodo universal sobre a “Igreja sinodal – comunhão, participação e missão”. E também é um Ano Jubilar ordinário. São muitas as motivações para vivermos intensamente este ano.
O Ano Jubilar, ou Ano Santo, é vivido no dia a dia junto com a Igreja toda, acolhendo as questões próprias deste “tempo de graça” que nos é dado. Somos chamados a aprofundar a dimensão da esperança na nossa vida cristã pessoal e comunitária. Todos somos “peregrinos de esperança”, de uma esperança que “não decepciona”, porque está fundada em Deus. Cremos no Deus vivo e verdadeiro, Deus fiel às suas promessas, Deus do amor misericordioso e da esperança inabalável.
Jesus Cristo, o Filho de Deus, fez-se homem e se entregou por todos nós sobre a cruz por amor para nos alcançar misericórdia, perdão e vida. A âncora, que também aparece na logomarca deste Jubileu, é o símbolo da esperança, conforme o texto da Carta aos Hebreus: “A esperança, com efeito, é para nós como uma âncora da alma, segura e firme. Ela penetra além da cortina do Santuário, onde Jesus entrou por nós, como precursor, feito sumo-sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedec” (6,19-20). O véu do Santuário simboliza a capacidade da esperança humana: ela é importante, mas está amparada apenas nas nossas capacidades limitadas. Mas a esperança cristã vai além e está ancorada em Cristo, nosso intercessor eterno diante de Deus.
O Jubileu é tempo de misericórdia e perdão. Na prática, isso é vivido através do perdão buscado, recebido e dado, quer o perdão sacramental, quer o perdão recíproco nas relações humanas. É tempo de fazer as pazes, de reconciliação, de purificação da memória dos ódios, rancores e ressentimentos passados; tempo de pedir perdão por ofensas de todo tipo contra o próximo. Tempo de resolver e superar injustiças e colocar novamente a vida em ordem, sem ficar devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo. O Papa recomenda que, ao longo deste Ano Jubilar, promovamos iniciativas que ajudem outras pessoas a recobrar a esperança, quer em ações caritativas e de assistência, quer na busca de soluções para os muitos problemas humanos, sociais e ambientais de todos os dias.
Parte importante do Ano Jubilar são as peregrinações, que podem ser feitas para metas universais de peregrinação, como as basílicas pontifícias em Roma e no Vaticano, os túmulos dos Apóstolos, os lugares santos ligados à vida de Jesus e de Maria e os grandes Santuários pelo mundo. Mas todos podem fazer a sua peregrinação também nas “igrejas de peregrinação do Jubileu”, designadas pelos bispos em suas dioceses. Na arquidiocese de São Paulo, temos 12 igrejas de peregrinação, entre as quais também conta a Catedral. As peregrinações podem ser feitas individualmente, ou em grupos. Geralmente, elas são organizadas e preparadas nas paróquias, com oração, confissão sacramental e as orientações necessárias.
As peregrinações fazem parte da experiência religiosa de quase todas as religiões e traduzem bem o significado do lema deste Jubileu: somos todos “peregrinos de esperança”; estamos a caminho durante a vida inteira, na direção da meta final da existência. Cada peregrinação que fazemos nos leva ao encontro de Deus já nesta vida, ou ao encontro com Nossa Senhora, nos santuários marianos, dando-nos alegria e consolo pela etapa alcançada. Mas sabemos que ainda não se trata do encontro definitivo e final. Somos povo de Deus constantemente a caminho.
Cada peregrinação que fazemos nos faz perceber melhor que somos parte de um povo de peregrinos. Não somos os únicos, nem estamos sós. Quanta gente está a caminho, como nós e conosco! E vamos nos dando conta de que ninguém consegue fazer sua peregrinação sem a ajuda de Deus e dos irmãos. E vamos caminhando para a mesma meta final. Partilhamos a fé comum e a alegre esperança de nos encontrarmos, um dia, finalmente reunidos diante de Deus e na companhia dos Anjos e Santos, saciando-nos fartamente da contemplação de sua glória.
Por isso, no início deste ano pastoral, vale recordar uma convicção comprovada pela experiência milenar da Igreja: caminhemos juntos; caminhemos com a Igreja! Não nos deixemos levar pela vaidade, nem sejamos vítimas da soberba e presunção de sabermos o caminho melhor do que a Igreja, comunidade de fé. Quem pretende caminhar sozinho pode ser vítima da incerteza e desorientação, pelo desânimo e o cansaço. E estando perigosamente sozinho, não terá quem o socorra e ampare. Caminhemos com a Igreja, com a fé comum do povo santo de Deus, humildemente, guiados pelo Espírito Santo que assiste a Igreja, pela palavra segura do Magistério da Igreja e pelo exemplo dos Santos que nos precederam no caminho da fé. Peregrinemos com a Igreja.