Com Maria, vivamos a nossa vocação

No primeiro domingo de maio, como acontece todos os anos, a arquidiocese de São Paulo celebra a sua 122ª Romaria ao Santuário de Aparecida. É uma tradição que vem de longe, iniciada quando o Santuário ainda fazia parte da diocese, depois arquidiocese, de São Paulo. De fato, Aparecida só foi desmembrada da arquidiocese de São Paulo em 1958 e seu primeiro Arcebispo foi o cardeal Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, que foi morar lá definitivamente apenas em 1964.

São Paulo manteve um vínculo afetivo muito intenso com Aparecida e, além da romaria oficial uma vez por ano, acontecem muitas outras peregrinações de paróquias e grupos ao Santuário ao longo do ano. Em Aparecida está a “casa da Mãe” e todos gostam de voltar lá, passar um tempinho com ela, encontrar tantos irmãos de todos os cantos do Brasil e tornar para casa com o coração cheio de alegria e esperança.

O tema da 122ª peregrinação arquidiocesana – “Com Maria, vivamos a nossa vocação” – lembra que vive- mos o 3° ano das vocações em todo o Brasil. A mãe tem grande atenção pela vocação dos filhos, desejando que eles acertem na vida e sejam felizes. Não é diferente com nossa Mãe espiritual. Ela própria é exemplo de fidelidade à sua vocação, que esteve muito unida à vocação e missão de seu Filho Jesus. Quando recebeu o chamado de Deus, através do Anjo, ela ficou perplexa e não sabia bem o que dizer, achando que era muito o que Deus lhe pedia. Mas depois que o Anjo esclareceu suas dúvidas, ela se dispôs inteiramente a fazer a vontade de Deus em sua vida: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a sua vontade” (Lc 1,38).

Maria viveu sua vocação como “graça e missão”. Suas palavras, no encontro com a prima Isabel, mostram que ela teve consciência de que Deus foi muito bom e misericordioso quando “olhou para a humildade de sua serva”. Ela ficou feliz com o dom imenso da maternidade divina, que lhe foi feito e não hesitou em proclamar ao mundo inteiro: “O Senhor fez em mim maravilhas, santo é seu nome!” (Lc 1,49). A vocação é sempre uma graça e significa um olhar paterno e bondoso de Deus para quem é chamado. Maria alegrou-se e abraçou sua grande vocação, mesmo quando isso lhe trouxe mais que sete dores ao longo da vida. Benditas dores, por causa de Jesus e por amor ao reino de Deus! Nossa vocação não nos isenta de dores e sofrimentos, que são consequências da fidelidade ao chamado.

Maria viveu sua vocação também como missão. Toda vocação é graça e missão. Depois do anúncio do Anjo, ela entendeu logo que a graça que lhe havia sido feita não era apenas para ela mesma, mas também para os outros e para toda a humanidade. Maria foi às pressas à casa de sua prima Isabel, em “visita missionária”, para anunciar e compartilhar com a parenta a grande graça que lhe havia sido feita. E ela proclamou que, por ela, a misericórdia de Deus “se estende de geração em geração a todos aqueles que o respeitam e amam” (cf Lc 1,50). A vocação não se realiza no fechamento sobre si mesmo, mas na doação e no serviço a Deus e aos irmãos.

“Corações ardentes e pés a caminho”. A vocação, quando acolhida generosamente, faz arder o coração de alegria e desejo de ir ao encontro dos outros. Nossa romaria a Aparecida, neste ano, leva à nossa Mãe a questão vocacional das famílias e da Igreja inteira. É importante rezar com os pais pela vocação dos filhos: que saibam discernir e acolher com fé e generosidade o que Deus quer deles para toda a sua vida. É importante que as famílias cristãs tenham presente o horizonte da fé quando falam da vocação dos filhos, que não deve resumir-se a ganhar muito dinheiro, ter sucesso e ficar famosos. É preciso pensar no dom que Deus faz a cada um e como cada filho pode colocar a serviço de Deus e do próximo o seu dom, colaborando na edificação daquilo que é bom, belo e justo para a vida humana e a convivência social.

Como arquidiocese de São Paulo, queremos colocar no coração da Mãe Aparecida, antes de tudo, a vocação de nossa Igreja na Metrópole, da qual fazemos parte. Qual é o dom que Deus confiou a nós, católicos, comunidades de fé e Igreja arquidiocesana? Qual é nossa missão nesta “cidade imensa”? Acabamos de celebrar o sínodo arquidiocesano e, agora, trata-se de perguntar novamente: que devemos fazer, depois de tudo o que vimos, ouvimos e refletimos durante o sínodo? Temos os desafios e as propostas sinodais, publicados na Carta Pastoral. Pediremos a Maria que nos ajude a viver este tempo pós-sinodal como “graça e missão” em nossa Arquidiocese.

Ao mesmo tempo, levaremos o pedido pelas vocações em nossa Igreja: vocação sacerdotal, religiosa, missionária, laical, matrimonial. Cada um recebeu a graça de uma vocação. Peçamos que esse dom se transforme agora em multiforme missão para o bem da Igreja e da sociedade.

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