A tarefa de viver é dura, mas fascinante!

O escritor Ariano Suassuna disse certa vez numa entrevista uma frase que me chamou muita atenção. Dizia ele: “não devemos ter vergonha de sermos considerados arcaicos por professar a nossa fé”. Essa frase foi dita por Suassuna com a voz forte do sertanejo calejado pela vida, carregada por sua firme convicção na existência de Deus.  

“A tarefa de viver é dura, mas fascinante”, dirá Ariano em outra entrevista ao jornal O Globo, em agosto de 2013. Tarefa dura para nós católicos – parafraseando Suassuna – nos tempos atuais, mas realmente fascinante. Ter um olhar sobrenatural para a vida cotidiana diante das situações mais diversas que vivemos ou das notícias que invadem nossa vida pessoal e nossos lares é, sem dúvida, uma graça divina. Saber-se amado e querido por Deus, e que somos chamados por Ele a transformar o mundo, de fato, nos enche de uma alegria inefável. 

O Concílio Vaticano II, na constituição Lumen gentium (n.33), indicou que “os leigos são especialmente chamados a tornarem a Igreja presente e ativa naqueles locais e circunstâncias em que só por meio deles ela pode ser o sal da terra”. Logo, cabe a nós católicos, com naturalidade, leveza de espírito e respeito a liberdade, ainda que vivamos em ambientes áridos a fé que professamos, sermos sal da terra para conservar e dar sabor. Sinal de contradição. 

Numa perspectiva pessoal, não é (ou não deveria ser!) uma surpresa ou algo estranho aos que vivem ao nosso redor, o conhecimento de que a nossa “razão cheira a velas”, de que temos nossa audiência diária com Deus na oração e na Santa Missa, que rezamos pelo Papa, que organizamos o nosso dia a dia, apesar dos pesares, oferecendo o trabalho, a vida em família e todas as nossas circunstâncias à Deus e, por Deus, ao próximo. Tudo nos interessa. Devemos ser uma “hóstia viva agradável a Deus”, como disse são Paulo aos Romanos. (Rm 12,1-2).

Nesse sentido, é próprio dos católicos, antes de tudo, rezar. Esse é o lado não visível aos que estão ao nosso redor. É um momento reservado do dia, cuja importância é a do “velho silhar oculto nos alicerces, debaixo da terra, onde ninguém vê”; mas que graças à sua existência – como ensina São Josemaría Escrivá – a casa não desaba! Sem oração, nada podemos! Podemos até ser bons no que fazemos, mas não seríamos cristãos. 

De modo concreto, no âmbito da família, somos chamados para uma missão extraordinária: cuidar da esposa e dos filhos; honrar nossos pais. Trata-se da nossa principal empresa diária, sobretudo, considerando uma sociedade secularizada e que julga ultrapassados os valores cristãos. Nossa fé é vivida no cuidado que temos com a nossa casa, no carinho com a esposa e filhos, nas orações pelas refeições, no Terço em família, na participação nos sacramentos, na transmissão das devoções pessoais, no estudo em família sobre as questões da atualidade etc. 

Na perspectiva do trabalho – insumo para nossa vida de santidade no meio do mundo somos chamados a contribuir com iniciativa e espontaneidade, a melhorar o mundo e a cultura de nosso tempo, de modo que os planos de Deus para a humanidade possam ser conhecidos. Se tivermos designadas responsabilidades de liderança, cabe a nós criar um ambiente de respeito, de segurança, de formação profissional e cultural, com boas condições de trabalho e salários; tratar com dignidade a todos que tornam o trabalho possível dentro e fora da empresa. Como outrora: cuidamos uns aos outros, com a gratuidade do bom samaritano. 

Não podemos esquecer que oferecemos tudo isso a Deus. Logo, nada de entregar um trabalho malfeito. Devemos trabalhar com a consciência de que somos o “Evangelho” mais acessível aos que estão ao nosso redor. A nossa fé é para ser vivida não apenas de forma intelectual. Como nos ensina Jesus Cristo: Eu tive fome e você me deu de comer, tive sede e você me deu de beber”. Ao fim e ao cabo, no “entardecer de nossas vidas, seremos julgados pelo amor”, como dizia São João da Cruz. Nossa fé é caritas!

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