A tecnologia e as crianças pequenas

Inicio aqui uma dupla de artigos que pretendo escrever sobre a influência da tecnologia, em especial tablets e celulares em nossa família. Este primeiro texto pensando nas crianças bem pequenas, e no próximo mais focado em pré-adolescentes.

Note-se que o que pretendo aqui é dividir a experiência de um pai de três pequenos, que teve de enfrentar esse dilema em família. Não trato de estudos de “especialistas” ou outros que, dependendo de suas intenções, mais confundem do que ajudam. Nunca podemos nos esquecer de que, no mundo capitalista em que vivemos, muitos estudos podem trazer em si algum viés, adicionado justamente por aqueles que os pagaram para que sejam realizados. 

Entrando no tema, o que nós, como pais, temos como desafio, é saber como proteger nossos filhos no uso dessas tecnologias que, ao mesmo tempo, será importante que dominem no futuro. Que dilema!

O que aprendemos, eu e minha esposa, se deu pela vivência pessoal, mas principalmente pela escolha de uma linha da pediatria muito pouco conhecida, mas que em muito se assemelha aos métodos mais antigos de ensino, mesmo que nossos avós não os tivessem tratado como uma metodologia. Nela, todo o foco da ação dos pais é para que a criança possa adquirir a habilidade de lidar sozinha com seus próprios desafios.

Comecemos por uma coisa bastante comum que todos conseguimos perceber, e confesso que me incomoda muito. Já notaram a quantidade de crianças bem pequenas que são mantidas “coladas” em celulares e tablets em restaurantes? Por que elas estão lá?

A resposta que já obtive ao questionar (com muito carinho) foi que os pais precisam almoçar, e as crianças ficam inquietas quando acabam de comer. Parece justo, afinal, que os pais tenham um minuto de sossego, correto?

Bom, a resposta mal-educada seria: mas qual a nossa prioridade, sermos pais ou termos o tal “momento de sossego?”. Posso falar isso sem qualquer constrangimento, afinal com três meninos com idades muito próximas, no fim do dia não há “momentos de sossego”.

Vemos as crianças coladas na tela do celular, quase sem piscarem os olhos, absorvendo toda a informação que recebem daquele portal multicolorido.  De cara, podemos perceber que, enquanto os pais pensam “ganhar um momento”, quem perde o momento é justamente a criança.

Perde o momento raro de curtir seus pais, mesmo sem entenderem as palavras e temas tratados. Aos poucos, percebem como os pais se tratam e o que acontece ao redor. Começam a perceber que são parte de um todo, que existem outras ao seu redor, mas que não estão ali tão próximos como uma família. 

Indo mais adiante, pensando no crescimento das crianças (você sabe que elas vão crescer, correto?), veja uma questão curiosa que o nosso pediatra nos propôs numa ocasião. Na época, discutíamos sobre aquilo que os pais fazem repetidas vezes para “atender” ou “acalmar” as crianças, seja na mesa ou na hora de dormir.

A pergunta direta é: “Até quando vocês pretendem fazer isso?”. “Como assim?” (era sempre a minha fala). “Ué, continuou ele, se sempre que isso acontece você acalma a criança com determinada atitude, em que momento vão parar? Quando ele tiver 30 anos, você vai continuar fazendo isso?”

Pode parecer esquisito, mas faz sentido. Em algum momento a criança vai ter de parar de usar o celular na mesa do jantar, e isso vai começar quando? A conclusão que virou frase basilar para nós foi: nunca comece a fazer com o seu filho algo que não pretenda fazer a vida toda!”. 

Assim, nessa onda, é chato para a criança ficar parada após o almoço? Sim, é. Ela vai ficar frustrada de ficar ali parada sem fazer nada, ou sem poder sair dali? Sim, vai.  Mas não será a única vez que terá de enfrentar algumas chatices da vida. Não será a última frustração que terá. Então é bom que aprenda a lidar com isso. 

Logo, vamos querer eles sentados à nossa mesa trocando ideias, mas, se desde cedo, ensinarmos que a tecnologia é a grande companheira do jantar, como explicar quando forem maiores que é necessário colocá-la de lado. Perguntarão: Porque podia antes, e agora não? Por que fiquei mais velho? Que coisa chata! E lá vai mais um motivo para um adolescente reclamar.

Em resumo: Nunca use a tecnologia como que uma “chupeta tecnológica” para acalmar ou silenciar a criança. Que os olhos de nossos filhos não encontrem calma e amparo nas telas repletas de ideologias, mas em nossos olhares e no tom de nossa voz. É isso que uma família faz.

Luiz Vianna é engenheiro, pós-graduado em marketing e CEO da Mult-Connect, uma empresa de tecnologia. Autor dos livros “Preparado para vencer” e “Social Transformation e seu impacto nos negócios”; é músico e pai de três filhos.

1 comentário em “A tecnologia e as crianças pequenas”

  1. Todos os dias eu pergunto a Deus, o que essa moderna tecnologia fez com as famílias, sinto falta de ver um almoço em família e uma criança correndo atrás da outra. Obrigado por essa linda reportagem e que a mesma possa chegar a muitos.

    Responder

Deixe um comentário