Há algumas semanas, escrevi um artigo sobre o uso da tecnologia com crianças pequenas e prometi um segundo sobre adolescentes, então aqui está…
Chegando próximo à adolescência, as crianças iniciam uma etapa diferente, aumentando a importância na interação com suas amizades. Ser aceito passa a ser muito mais relevante. Com isso vem também as comparações com os outros.
Nessa comparação com os outros, aparecerá certamente a questão da tecnologia, e conosco não foi diferente. Sempre quisemos adiar ao máximo que nossos filhos tivessem celulares. Quando perguntado sobre com quantos anos poderia ter um celular, sempre respondi: “Aos 25 anos”. Mas esse dia chegou.
Nosso filho de 12 anos nos trouxe o tema com ar formal, apresentou argumentos até que razoáveis, e pediu um voto de confiança. E, agora, como responder a esse apelo formulado de maneira tão honesta?
Apesar do desejo de dar uma negativa, a forma da solicitação nos levou a pensarmos novamente. Decidimos então explorar o grau de maturidade do pedido, e perguntamos a ele se não seria conveniente estabelecermos algumas regras, cuja resposta foi um sonoro “sim”. Assim, pedimos a ele que nos formulasse um conjunto mínimo de regras que achasse pertinente.
Logo de cara já apareceram itens como obediência e a divisão do aparelho com os irmãos, sem brigas. O terreno parecia bastante promissor, e seguimos nas negociações adicionando, aqui e acolá, pontos que lhe faltaram na percepção e pedimos uma revisão.
Na nova versão, o resultado avançou bem, incluindo:
- Não utilizar junto ou em desfavor dos momentos em família (TV, jogos ou passeios);
- Nunca utilizar na mesa das refeições (em casa ou fora de casa);
- Cuidar para não estragar.
Com isso, conseguimos estabelecer alguns conceitos como os da divisão dos bens e das vitórias pessoais, e o mais importante: a centralidade da família, que deve ser mais importante do que qualquer coisa.
De nossa parte, nas questões práticas, adicionamos outros temas de igual importância, como:
- Proibido o uso de redes sociais de qualquer natureza;
- Aplicativos de comunicação, apenas o WhatsApp;
- A instalação de qualquer aplicativo deve ser autorizada antes por nós, seus pais;
- Posicionamento GPS compartilhado conosco;
- Limites de hora de uso, por dia da semana e nos fins de semana;
- Nós, como pais, deveríamos ter livre acesso ao aparelho quando quiséssemos.
A proibição das redes sociais visa evitar a exposição que elas trazem, e as distorções que seus mecanismos podem causar na percepção infantil. Falei sobre isso em meu outro artigo aqui neste jornal denominado:” Vida real, mundo virtual e a realidade paralela”.
Como os atos devem ter consequências, adicionamos também uma penalidade, que é a perda temporária do celular, por tempo determinado por nós, pelo descumprimento das regras combinadas. Faltava apenas definir o “limite do inaceitável”.
Para isso, estabelecemos uma pena capital que é a de perder o celular em definitivo. Essa pena está prevista em apenas dois casos: caso o celular seja utilizado de qualquer forma para desrespeitar seus professores ou a Deus.
Negociação finalizada, todos satisfeitos, e agora? Agora, calma! Somos nós, os pais, que definimos o ritmo e o andar das coisas. Assim, definimos dois pontos finais: Quem vai pagar o celular somos nós, seus pais, então a gente escolhe qual. O celular é nosso, e vai estar sob a sua gestão, como é a vida dada por Deus. Quando isso vai acontecer? Não vai ser amanhã, vai ser nos próximos dias. Afinal a espera é também uma virtude.
Fomos à loja sem ele, e escolhemos um modelo bastante básico de marca confiável, afinal o risco de quebrar ou perder estará sempre presente. Meses antes, eu havia estado em uma loja dessa com minha mãe, para comprar um celular para ela. Enquanto esperávamos, uma criança de não mais de 10 anos, com sua mãe, escolhia o seu novo celular olhando os preços, pedindo que queria o mais caro, o que conseguiu no final depois de muita insistência.
Nesta linha, optamos por um modelo em Android que, além de mais barato, possibilita o uso do aplicativo Family Link, que permite praticamente todos os controles que estipulamos nas regras como tempo de uso diário, aplicativos só podem ser instalados com autorização, compartilhamento de posicionamento GPS, entre outros.
Passados quase um ano, não houve qualquer momento em família que tivesse sido atrapalhado pelo celular. Naturalmente, as crianças precisam de auxílio para encontrar seus limites, e temos feito isso. O aparelho nem conhece a mesa da cozinha e, quando chegamos a restaurantes, a bolsa da mamãe é naturalmente procurada para acomodá-lo.
Crianças querem ser crianças, pais precisam ser pais.
Luiz Vianna é engenheiro, pós-graduado em Marketing e CEO da Mult-Connect, uma empresa de tecnologia. Autor dos livros “Preparado para vencer” e “Social Transformation e seu impacto nos negócios”; é músico e pai de três filhos.