Apartados da verdade e entregues às fábulas

Ao olharmos para o mundo, muitas vezes nos deparamos com situações estarrecedoras. Parece que o mal não se esconde mais. Nunca foi tão fácil perceber o mal, a injustiça, o ódio.

Pode parecer uma visão apocalíptica, mas na visão bíblica parece claro que estamos num tempo de colheita, em que o joio está sendo separado do trigo. E sabemos o destino de ambos.

A diferença da metáfora da plantação com a vida real é que somos nós quem escolhemos de que lado estaremos. Se seremos joio ou trigo. Somente eu, porém, que vejo assim? Por que muitos não conseguem ver com clareza o que está acontecendo?

Esta semana, chegou à minha time-line um vídeo antigo sobre o famoso “memorando Google”. Não apenas me refrescou a memória, como me deu mais munição sobre esse tema. Antes, precisamos lembrar a história para entender melhor o contexto.

Em 2017, James Damore, um funcionário do Google, respondeu com franqueza a um pedido de feedback sobre o programa de diversidade da empresa. Sua resposta acabou por se tornar um memorando que rapidamente virou notícia mundial, e que culminou com sua demissão meses depois.Em resumo, ele reclamava que o programa fazia uma pressão ideológica interna. Que apesar de concordar que houvesse discriminação, que não resolveriam o problema por meio de uma discriminação reversa. Defendeu que as mulheres teriam maior interesse em “pessoas” enquanto os homens por “coisas” e que, por essa razão, seria natural que uma empresa de tecnologia contasse com mais homens do que mulheres.

Em resumo, sua nota chegou à imprensa e mereceu uma crítica por escrito do presidente da empresa, acusando-o de ir contra os valores corporativos. Na nota oficial, a empresa justificou sua demissão, defendendo que procurava “promover uma cultura na qual aqueles com visões alternativas, incluindo visões políticas diferentes, se sintam seguros para compartilhar suas opiniões…”.

Só eu notei uma contradição aqui?

Em 2018, a Portland State University convidou James Damore para uma discussão com alunos. Em certo momento, uma professora especialista em evolução biológica é convidada a falar sobre as diferenças entre homens e mulheres. Ela, então, começa a listar diferenças tanto biológicas quanto anatômicas: “Os homens são, em média, mais altos do que as mulheres. A massa muscular nos homens é maior do que nas mulheres. A forma de depositar gordura no corpo de ambos é diferente”.

De repente, alguns jovens se levantam furiosos. Dizem-se ofendidos e que aquele seria um discurso inaceitável. Diante das câmeras, afirmam que pessoas que defendem esses pensamentos deveriam ser presas e que tal comportamento não deveria ser aceito em uma sociedade civil.

A professora, ainda desconcertada, retrucou: “Vocês podem estar desconfortáveis, mas isso tudo é a verdade. O seu desconforto não muda a realidade.”

Onde isso, contudo, se encaixa com a questão inicial do joio e do trigo ou da visão apocalíptica?

Como a professora, olhemos o que diz a Filosofia: “A percepção da realidade não muda a realidade.”

Achar que sou um gato pode me fazer sentir bem, mas não me torna um gato. Acreditar que Deus não existe, não faz Ele sumir. Acreditar que o inferno está vazio, não garante lugar no céu.

O mundo, que quer transformar todos em joio, mente. E o pai da mentira, sabemos bem quem é. Oferece-nos um mundaréu de ideologias e causas fúteis para defender. Ideologias que escondem dentro de si o ódio ao Criador, aquele que é a própria Verdade, como Cristo disse.

Assim, não tenho mais dúvidas de que estamos vivendo no tempo previsto por Timóteo: “Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas” (2 Tim 4,3-4).

Todavia, entre tantas mentiras que o mundo nos vende, a maior de todas é que podemos ser felizes contrariando a nossa própria natureza. Não apenas a natureza biológica, mas a principal característica da natureza humana: a nossa imagem e semelhança de Deus.

Negar a existência de Deus não muda a história, a realidade ou a criação. Somos, sim, criação de Deus, e nossa felicidade plena só se dará quando estivermos em harmonia com Aquele que nos criou e amou em primeiro lugar.

O mundo está se afogando nessa arrogância que “tudo sabe” e que se nega a escutar a verdade. E é por esse motivo que somos tão odiados, porque a verdade que está em nós incomoda o mundo.

Nossa decisão, no entanto, foi tomada, seremos conduzidos pelas mãos do Semeador para que, na hora certa, sejamos colhidos como trigo.

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