Caminhemos na Esperança! 

São Josemaría Escrivá costumava incentivar que meditássemos sobre os Novíssimos – a morte, o juízo, o destino eterno – para despertar e iluminar nossas consciências sobre o valor de viver as virtudes da generosidade, da humildade e da caridade. Ou como escreve no livro Caminho, ponto 745, de forma mais direta: “Há de vir julgar os vivos e os mortos”, rezamos no Credo. – Oxalá não percas de vista esse julgamento e essa justiça e… esse Juiz”. Trata-se de uma advertência amorosa a qual devemos tirar consequências. Não a percamos de vista. 

Ao meditar sobre essas palavras, muito própria inclusive, para as duas datas que viveremos nos dias 01 e 02 de novembro, Dia de Todos os Santos e Dia dos Finados, respectivamente, ocorreu-me além destas citações de São Josemaría Escrivá, uma frase do livro Tempos Difíceis, de Charles Dickens, publicado em 1854.  

Permitam-me um “parêntese”. Não é de hoje que vivemos tempos difíceis e engana-se quem pensa que vivemos tempos excepcionais atualmente. Não será o século XXI que terá como próprio ou como chave para a sua compreensão o que essas duas palavras “tempos difíceis” expressam com todo o seu vigor em nossos espíritos. E, tampouco, o século XIX retratado por Dickens, diga-se de passagem! Lembre-se do que nos disse São Paulo: “nem as realidades presentes, nem as realidades que estão por vir” nos separam do amor de Cristo. 

Retomando ao curso deste artigo, a frase que me ocorreu refere-se ao personagem Stephen Blackpool, o mineiro pobre do livro Tempos Difíceis, que, para alguns editores, resume também a vida e a obra de Dickens, que diz: “minha prece de moribundo foi que os homens possam pelo menos aproximar-se mais uns dos outros do que quando eu, pobre coitado, estive entre eles”. A literatura é também uma forma de oração. Às vezes, também podemos dizer: “estive entre eles”, mas não próximos uns dos outros. 

Será que somos capazes de fazer esse exame de consciência do personagem Stephen Blackpool em relação ao modo como vivemos, em família e em sociedade? Será que precisaremos estar “próximos” da morte para, então, refletirmos sobre o nosso modo de viver a caridade cristã? De meditarmos sobre nosso amor a Deus e, por Deus, ao próximo, plenamente? São Josemaría Escrivá nos recorda um ensinamento milenar da Igreja – os Novíssimos – para que não precisemos estar moribundos para darmos contas disso! Para não concluirmos, ao fim e ao cabo, “estive entre eles” e, não, próximo deles.

É preciso nos darmos contas, sem dúvida! Mas, como?  

Em termos pessoais, vale aproveitar-se deste momento em que vivemos a comunhão dos santos e de dedicação de um dia específico para recordar os entes queridos que desde os céus intercedem a nosso favor, e nos colocarmos algumas questões incômodas para pensar, tais como: o que sou para minha esposa e filhos? Sou sal e luz, que lhe protegem e dá sabor? Ou uma cruz amarga e involuntária a ser carregada por eles? Faço de minha casa um lar luminoso e alegre? 

Para uma visão mais geral da sociedade, recomendo a leitura da encíclica Fratelli tutti do Papa Francisco. No capítulo I, cujo título é “As sombras de um mundo fechado”, após elencar as “densas sombras que não se devem ignorar” no mundo atual, o Papa nos convida à Esperança. E, nos propõe como resposta a esse mundo fechado de “tempos difíceis” que não reconhece mais o próximo a Parábola do Bom Samaritano narrada por Jesus Cristo, expondo e indicando os caminhos para superarmos a nossa indiferença e leitura asséptica da realidade que vivemos. 

Podemos estar novamente descendo de “Jerusalém para Jericó”, podemos estar saindo “da missa para o mundo” e, então, nos depararmos com pessoas que caíram nas “mãos de assaltantes”, que lhes arrancaram tudo, deixando-as meia mortas pelos caminhos, sem que elas se deem conta. No entanto, já sabemos o que Deus espera de nós, qual a atitude que devemos tomar: sejamos bons-samaritanos. Caminhemos na esperança! Sem ceder ao pessimismo! 

Comentários

  1. Que possamos sempre lembrar da importância de sermos humildes e de pensarmos no próximo. Não deixemos para amanhã o bem que podemos fazer hoje. Somos chamados a amar, a cuidar e a servir. Que nossas atitudes reflitam o amor de Jesus em cada detalhe, iluminando a vida das pessoas ao nosso redor. Que possamos buscar a santidade em cada escolha, sendo luz e esperança na vida de quem precisa.

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