O tema não é novo, mas está muito em desuso no comportamento da sociedade atual, talvez por não ser “politicamente correto” quando de sua observação. No entanto, já no Evangelho, Jesus é claro quando afirma: “Se teu irmão pecar, vai corrigi-lo a sós. Se ele te ouvir, ganhaste o teu irmão. Se não te ouvir, porém, toma contigo mais uma ou duas pessoas para que toda questão seja decidida pela palavra de duas ou três testemunhas. Caso não lhe der ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja der ouvido, trata-o como o gentio ou o publicano” (Mt 18,15-17).
Percebe-se que a correção fraterna se faz entre cristãos, ou seja, duas pessoas seguidoras de Cristo que comungam da mesma fé, na mesma esperança com o desejo de viver a caridade: o Amor. Jesus afirmou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Considerando que a palavra de Deus é ensinamento atemporal, quer dizer, que não muda a sua validade ao longo do tempo, independentemente de épocas, civilizações ou contextos, a afirmação não permite interpretações livres ou adaptações transitórias; mesmo porque a Igreja é “zeladora” da Palavra de Deus. O verbo “ser” indica estado permanente: “Eu Sou o que Sou” (Ex 3,14). A legitimidade da natureza divina na pessoa de Jesus Cristo está identificada nesta afirmação. Portanto, “se teu irmão pecar…” significa que, se teu irmão se comportou contra o que está estabelecido nos mandamentos de Deus, é pecado.
Ora, cometer o pecado é romper a união com Deus, o que conscientemente não deve ser desejo de alguém que quer permanecer em Cristo. Esta ruptura para ser pecado deve ser consciente e, portanto, ocorreu por desobediência desejada ou consequente às fraquezas humanas. Uma vez percebida por um irmão, caberá a este, por amor, fazer ver ao seu irmão a necessidade de uma correção: “Vai corrigi-lo a sós”. A delicadeza da correção não é impositiva pelo desejo de censura de quem corrige, nem sequer humilhante, se faz “a sós”. Contudo, diante da falta de reconhecimento, deve-se conduzir a questão a testemunhas e à Igreja. Por quê? Não ficará dúvida de omissão àquele que pretendeu fazer a correção fraterna. Se mesmo assim não mudar o comportamento, respeite-se a liberdade, mas não poderá continuar como cristão, mas sim “gentio ou publicano”.
A correção fraterna se aplica a todos. Exemplo conhecido se relata no encontro de Pedro e Paulo: “Quando Cefas veio a Antioquia, eu o enfrentei abertamente, porque ele se tornara digno de censura. Com efeito, antes de chegarem alguns vindos da parte de Tiago, ele comia com os gentios, mas quando chegaram, ele se subtraía e andava retraído, com medo dos circuncisos. Os outros judeus começaram também a fingir junto com ele, a tal ponto que Barnabé se deixou levar pela sua hipocrisia. Entretanto, quando vi que não andavam retamente segundo a verdade do Evangelho, eu disse a Pedro diante de todos: se tu, sendo judeu, vive à maneira dos gentios e não dos judeus, por que forças os gentios a viverem como judeus?” (Gl 2,11-14). Paulo, talvez pela gravidade do fato, pulou a etapa do “a sós”.
A correção fraterna é uma atitude valiosa de amor ao próximo, para a permanência de todos os que pertencem ao rebanho do Senhor, e para as ovelhas desgarradas do Bom Pastor. As palavras de Jesus na sua oração no Horto, antes de Sua Paixão, são esclarecedoras a este respeito da unidade cristã: “Por eles eu rogo; não rogo pelo mundo, mas pelos que me deste, porque são teus” (Jo 17,9); “Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio da sua palavra, crerão em mim: a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,20-21).
Muitos problemas poderiam ser evitados se fosse feita a correção fraterna oportunamente. Ela não se apoia numa interpretação individual dos fatos, ou respeita políticas ou ideologias transitórias; mas deve ser sempre feita à luz da Verdade em Cristo. Nele permaneceremos sempre em unidade, apesar da diversidade própria da liberdade de cada um, desde que não se afaste do Caminho do Senhor. “E eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20).
Valdir Reginato é médico de família. E-mail: reginatovaldir@gmail.com