É necessário que eu diminua

São João Batista, a quem celebramos em nossa festa junina, foi aquele a quem Jesus se referiu em Mateus 11,11: “Entre os nascidos de mulher, não surgiu ninguém maior do que João Batista”. João é aquele que veio para “preparar os caminhos do Senhor e endireitar suas veredas.”, como previu Isaías.

Para este artigo, gostaria de chamar a atenção para duas de suas frases:

Mateus 3,11: “…aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas sandálias não sou digno de levar…”.

João 3,30: “É necessário que Ele cresça e que eu diminua”.

João, o maior de todos, nos ensina a respeito daquela que é, sem dúvidas, a virtude que é causa da maior batalha dos cristãos: a humildade.

Não foi só João que nos falou sobre isso. Podemos encontrar tanto no Antigo quanto no Novo Testamento várias passagens nessa direção: Em Provérbios 11,2, por exemplo: “…com os humildes está a sabedoria.”, ou mais adiante na primeira carta de Pedro 5,5-6: “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”.

Mas no que consiste a humildade cristã?

Se fosse resumir em uma frase, eu diria: “Ser humilde é reconhecer-nos como criatura, que em tudo depende de Deus”.

Ao tentarmos viver assim, notamos como João tinha razão. Realmente, “não somos dignos de carregar as sandálias de Jesus”, diante Dele não somos nada.

Entretanto, a força da nossa concupiscência não vai deixar barato. Vai tornar essa busca pela humildade quase como que um ato heroico, uma luta de altos e baixos.

Mas Deus, que é tão bom, sabe disso. E é justamente na outra frase de João que está escondida uma importante pista: “É necessário que Ele cresça e que eu diminua.”. Se a lermos ao contrário, como gosto de meditá-la, teremos: “É necessário que eu diminua, para que Ele cresça”.

Na medida em que me torno menor, mais humilde, mais espaço dou à ação de Deus. Quanto mais humilde, menos “eu” e mais “Deus”.

E, de repente, tudo parece se encaixar mais claramente: “Com os humildes está a sabedoria”, que é Deus. Ou ainda, Deus “dá graça aos humildes.”, que são aqueles que permitem a ação divina em suas vidas.

Diante de tudo o que o mundo nos ensina, a humildade é a maior de todas as contradições. No mundo da autossuficiência e da autoajuda, o cristão busca reconhecer-se absolutamente insuficiente e totalmente dependente de Deus.

O mundo quer um “mais Eu e menos Deus”. Mas Jesus disse-o bem: “Estamos no mundo, mas não somos do mundo”.

O mundo, que nos quer afastar de Deus, ensina justamente o oposto: A soberba e a arrogância. A soberba, pai do excesso de orgulho em si mesmo e o desprezo pelo outro; e a arrogância, mãe do autoritarismo e da falta de empatia.

Convenhamos, um grupo bem familiar.

Se os cristãos, por um lado, celebram seus exemplos de humildade como São João Batista, São Miguel Arcanjo ou Nossa Senhora ao mundo, que não quer seguir nenhum exemplo, resta celebrar o próprio orgulho.

O orgulho não é apenas um mal em si, é também uma prisão. Quem está cheio de si, não ouve o outro, não muda de opinião. O orgulhoso está sempre certo, despreza quem pensa diferente e está sempre disposto a impor suas próprias opiniões.

Quem de nós não teve de admitir a realidade de pecador, antes de iniciar uma mudança de vida em direção a Cristo?

E aqui ficamos diante de um dilema, pois o livre arbítrio continua valendo.

O homem continua aprisionado ao orgulho, mas a cela está com as portas abertas. Ele pode sair, mas não quer levantar os olhos. Está muito atento ao seu próprio umbigo, ou com os olhos fixos no seu dispositivo móvel apoiado sobre ele. Muitos estão assim, cada um em sua própria solitária de porta aberta.

Não será aceitando suas realidades que faremos com que ergam os olhos e sigam em direção à porta da liberdade. É necessário que os que estão do lado de fora gritem alto, para que os aprisionados olhem para além das grades. E é justamente esse o papel de cristãos e da Igreja.

Não podemos aceitar esse aprisionamento como algo natural. É urgente lutar para que todos venham para o lado de fora dessa prisão que o mundo tenta nos manter.

Esse nosso grito irrompe a falsa tranquilidade da cela. Nosso comportamento incomoda a paz dos que querem permanecer na cela do orgulho. No fundo, sem que entendam com clareza, a semelhança com Deus reverbera dentro deles esse grito por liberdade. Por isso, somos tão odiados pelos que estão presos.

Assim, continuemos a ser o sal da terra e a luz do mundo desse sistema prisional. Como disse o anjo da paz em Fátima, rezemos “por aqueles que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam”.

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