Impossível passar pelo mês de maio e não se sentir, de alguma forma, tocado por Maria. Seu papel é muito maior do que nos damos conta, e é nisso que gostaria de mergulhar neste artigo.
Ela não foi uma pessoa comum que apenas estava no lugar certo na hora certa. Alguém que recebeu a visita de um anjo que, com uma pergunta, lhe fez como que uma oferta de emprego e que, com um despretensioso “sim”, acabou “mãe de Deus”.
Maria estava desde sempre nos preparativos da “plenitude dos tempos”. Se tudo na terra foi preparado para a encarnação do Verbo, não foi diferente com ela.
Eva foi a virgem, prometida em casamento, nascida sem pecado original e que, visitada por um anjo, lhe disse sim. Maria, a nova Eva anunciada no Gênesis, foi aquela que viria para ajudar a “renovar todas as coisas”. Seu sim não apenas daria espaço para a nossa redenção, mas colocaria o seu calcanhar sobre a cabeça da serpente.
Seu nascimento tardio, considerando a idade avançada de sua mãe, fez seus pais pensarem que algo de especial lhe estivesse reservado. Eles, contudo, não tinham como perceber a dimensão do que ela seria.
Como sabemos, Maria a “cheia de Graça”, foi o único ser humano que mereceu a reverência de um anjo, Gabriel. Ela foi o primeiro sacrário, a maior intercessora. Passaríamos horas listando aqui seus adjetivos.
Mas o que deixamos passar é o seu importante papel, não só bíblico, mas na nossa história. Refiro-me aqui às suas aparições, principalmente aquelas chamadas “modernas”, a partir do século XIX e que foram reconhecidas por nossa Igreja.
Sei que as revelações privadas, como é o caso das aparições, não são de credo obrigatório, mas ainda assim é difícil manter-se completamente distante de tais acontecimentos.
Na sequência de aparições – Medalha Milagrosa (1830), La Salette (1846), Lourdes (1858) e Fátima (1917) – vemos uma mãe preocupada, aflita, por vezes chorando, diante das opções do homem moderno, e das inevitáveis consequências do seu distanciamento de Deus.
Como em Caná, ordena: “Façam tudo o que Ele vos disser”. Em suas mensagens, nos pediu oração, penitência e retorno a Deus, mas nós não a atendemos. Em 1851, Pio IX ao resumir a aparição de La Salette, disse: “Se não rezarmos e fizermos penitência, estaremos perdidos”.
Não fizemos!
É impossível hoje ver o relato de tudo o que ela nos disse sem concluir que suas previsões se realizaram ou estão em vias claras da sua plena realização. Nestes últimos três séculos, não só nos afastamos de Deus: tornamo-nos insensíveis, tripudiamos, desrespeitamos, pecamos sem qualquer remorso, voltamos a ser pagãos.
Basta olhar o mundo ao nosso redor.
Podemos não desejar, mas sabemos em nosso íntimo que merecemos, sim, receber sobre nós a “mão pesada de seu filho”, como ela disse.
Imersos desde crianças num mundo materialista e secular, não conseguimos enxergar as coisas com clareza. Sem que notemos, nossa visão está turva por essa influência, nosso julgamento está deturpado por esses valores.
Diante das tábuas da lei, analisamos com pesar nossos pecados contra as leis da tábua da relação com o próximo, como roubar e matar, mas temos enorme dificuldade em reconhecer nossos erros quando pecamos contra o que está na primeira tábua, a dos pecados contra Deus.
Se não colocamos Deus no centro de nossas vidas, se usamos o seu Santo nome em vão ou se não guardamos o domingo, rapidamente nos socorremos em uma falsa “misericórdia divina” alegando que “Deus entende”.
Como podemos ser filhos tão insolentes?
Como podemos seguir nessa nossa “cristandade cômoda” sem colocar Deus sobre todas as coisas? Não se trata de ir à missa ou dar prioridade a Ele. Não é colocá-lo em primeiro lugar, mas colocá-lo acima de tudo e de todos.
Quando penso nessas coisas, lembro-me com aflição de duas frases do Evangelho: “Não vos conheço” ou “Prefiro os quentes e os frios”. Deus nos livre!
Enquanto não entendermos isso, continuaremos cristãos mornos e nosso destino será a condenação eterna. E não será sem aviso, ou Jesus dirá que não nos conhece, ou nos “vomitará” para longe. É por esse motivo que, em Fátima, Nossa Senhora não privou aquelas crianças de uma visão clara e cristalina do inferno.
Mas temos esperança. Ainda em Salette, Deus promete combater em favor de seus verdadeiros imitadores, todos aqueles humildes e dóceis à inspiração do Espírito Santo, sua verdadeira Igreja.
Então, não percamos mais tempo. Voltemos ao Cristo, com orações e penitências. Sejamos dóceis ao Espírito Santo, pedindo o discernimento e a libertação das influências deste mundo para que nossa visão esteja clara e nosso juízo esteja livre para que façamos “tudo o que Ele nos disser”.