Na civilização do espetáculo, basta sermos fermento!

Nos ensaios publicados no livro “A civilização do espetáculo – uma radiografia de nosso tempo e da nossa cultura”, de 2012, o escritor peruano, Prêmio Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa, escreve: 

“Assim como tenho a firme convicção de que o laicismo é insubstituível numa sociedade realmente livre, com não menos firmeza acredito que, para ser livre, é igualmente necessário que na sociedade prospere uma intensa vida espiritual – o que para a grande maioria significa vida religiosa –, pois, caso contrário, as leis e instituições, por mais bem concebidas que sejam, não funcionam cabalmente e muitas vezes se deterioram ou se corrompem”. 

“A cultura democrática não é feita apenas de instituições e leis que garantam equidade, igualdade perante a lei, igualdade de oportunidades, mercados livres, justiça independente e eficaz, o que implica juízes probos e capazes, pluralismo político, liberdade de imprensa, sociedade civil forte, direitos humanos. É feita também, e sobretudo, da convicção arraigada entre os cidadãos de que esse sistema é o melhor possível e da vontade de fazê-lo funcionar”. 

Mario Vargas Llosa é um escritor cativante. Em muitos temas, entretanto, divergimos e em outros, temos uma profunda convergência. No entanto, é justamente o saudável contraditório que nos aproxima. Sua literatura é sincera e, apesar de se professar como “não crente” – o que obviamente rezo para que a graça de Deus lhe toque o coração –, escreve como lemos acima com o rigor típico dos pensadores livres, inclusive das patrulhas atuais que reivindicam a tolerância para suavizar de forma eufemística, suas posições muitas vezes totalitárias. 

“Ao contrário do que imaginavam os livres-pensadores, agnósticos e ateus dos séculos XIX e XX, na era pós-moderna a religião não está morta e enterrada nem foi posta no desvão das coisas imprestáveis: está viva e ativa, ocupando um lugar central na atualidade”, como foi capaz de reconhecer o escritor.  

Interessante observar a leitura sobre a cultura democrática e a conclusão a que chega sobre a necessidade de uma vida espiritual intensa para que ela possa funcionar, “pois caso contrário, as leis e instituições, por mais bem concebidas que sejam, não funcionam cabalmente e muitas vezes se deterioram ou se corrompem”.

Quiçá muitos de nós, católicos, ao lermos esse texto de Vargas Llosa, reconheçamos a proximidade do Evangelho e os ensinamentos do Magistério e da Tradição da Igreja da Católica. 

São João Paulo II na encíclica O Esplendor da Verdade – Veritatis splendor (VS), publicada em 1993, apontava o “risco da aliança entre democracia e relativismo ético, que tira à convivência civil qualquer ponto seguro de referência moral, e, mais radicalmente da verificação da verdade. […] Uma democracia sem valores converte-se facilmente num totalitarismo aberto ou dissimulado, como a história demonstra” (VS 101).

De fato, a Igreja “está viva e ativa, ocupando um lugar central na atualidade”. Afinal, vivemos a convicção expressa pelo próprio Cristo Jesus, Nosso Senhor, nas últimas linhas do Evangelho segundo de São Mateus: “Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,19-20).  

O escritor Ariano Suassuna dizia: “Não devemos ter vergonha de sermos considerados arcaicos por expressar a nossa Fé Católica”. Logo, a resposta a essa civilização do espetáculo, “donde o primeiro lugar na tabela de valores vigentes é ocupado pelo entretenimento, em que divertir-se, escapar do tédio, é a paixão universal”, continua aquela descrita pelo apóstolo São Paulo à sociedade romana: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que podais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito”. (Rm 12,1-2). 

Um segredo em voz alta, dizia São Josemaría Escrivá, “estas crises mundiais são crises de santos. Deus quer um punhado de homens ‘seus’ em cada atividade humana”. Somos chamados a ser sal, luz e fermento no mundo!

2 comentários em “Na civilização do espetáculo, basta sermos fermento!”

  1. Realmente, somos chamados a ser sal,luz e fermento do mundo e para isso temos que nos revestir de espíritos transformadores e fazer parte desse punhado de pessoas que fazem parte dos ensinamentos de Deus.

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