O combate, a corrida e a fé de Paulo

Recentemente, celebramos a festa de São Pedro e São Paulo. Entre as leituras típicas dessa santa celebração, está esta frase da carta de Paulo a Timóteo que gostaria de meditar aqui: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.” (2Tm 4,7-8)

A frase de Paulo parece uma meditação de si mesmo e de sua própria vida. Contudo, ela é um testamento endereçado a Timóteo, como exemplo a ser seguido, e a todos nós.

Ela foi escrita diante do horizonte próximo de sua morte, olhando para a sua vida. Assim, gostaria de começar esta reflexão em um dos primeiros acontecimentos de nossas vidas católicas: o Batismo.

Como sabemos, de forma resumida, o Batismo causa uma marca indelével em nossas almas, apaga a mancha do pecado original, nos credencia como filhos de Deus e nos habilita para os demais sacramentos católicos.

Mesmo recebido em tão tenra idade, como é o costume, não é um sacramento menor, pelo contrário. É a partir dele que somos habilitados a ser “Templos do Espírito Santo” e é com Ele que iniciamos e seguiremos a nossa “corrida”.

O Batismo é a grande “largada” e, ao mesmo tempo, o primeiro grande impulso rumo ao céu.

Sobre a “corrida” de Paulo, podemos entendê-la de duas formas. A primeira, como um desejo de chegar rápido ao nosso destino, que é estar junto de Deus por toda a eternidade, mas, também, como uma jornada.

Um esforço humano que, diante da eternidade fora do tempo, passa depressa, mas que aqui, dentro do tempo, nos parece uma maratona.

A maratona não é para muitos: qualquer pessoa sem preparo, sem treino e sem orientações ficará pelo caminho. A maioria não chegará, muitos chegarão depois que a linha de chegada já estiver fechada, outros chegarão tão sujos, por causa de sua jornada irregular, que terão de se banhar antes de receber o prêmio final.

Paulo, porém, não falou apenas da corrida, falou do “combate”. Mas, afinal, de qual combate Paulo se refere? Contra os Judeus, seu objeto de evangelização? Contra os Romanos, seu povo que o “cancelou” por sua opção por Cristo?

Quando pensamos nos grandes combates dos primeiros séculos, nos vem à mente aqueles fortes guerreiros com suas espadas em punho e suas lutas no “mano a mano”.

Naqueles tempos, antes de saírem, eram besuntados com um “óleo de guerra”, que acreditavam lhes dar uma energia especial; na prática, os tornavam muito difíceis de serem retidos por um oponente, pois aquele óleo viscoso tornava fácil que escapulissem das mãos do inimigo.

Para nós, católicos, esse “óleo da guerra” equivale ao “óleo do Crisma”. No sacramento do Crisma, o nosso Batismo é como que elevado a uma outra potência.

Não se trata de uma simples “confirmação” das promessas que fizeram por nós no Batismo. Ali fazemos como que um alistamento ao exército de Cristo. Com a Crisma, mais maduros, elevamos nossa filiação de Deus para um compromisso de lutar por nossa fé, por defender Cristo, por “combater o bom combate”.

Com o “óleo do Crisma”, somos “besuntados” e ungidos como grandes guerreiros. O Espírito Santo nos dá a “energia” espiritual necessária e nos torna mais escorregadios das mãos do pecado, quando tentarmos nos livrar das grandes garras do Maligno.

A partir desse sacramento, nos habilitamos a defender a fé em Cristo no mundo, mas não apenas como “sal da terra e luz do mundo”. Uniremos nossas forças pela conversão de outros no exército da Igreja militante.

Nos resta, então, meditar sobre “guardar a fé”. Como fazemos isso? A resposta, a esta altura, parece óbvia. Deus nos dá os meios para “mantermos a nossa fé” por intermédio dos sacramentos da Confissão e da Santa Eucaristia.

Quando, em nossa batalha, não lutamos o suficiente para escaparmos das garras do Mal ou quando vacilamos e nos deixamos ferir pelo pecado, Deus nos acolhe na Confissão para recebermos uma dose extraordinária da Graça Santificante, que nos leva novos e fortalecidos de volta ao campo de batalha.

A Santa Eucaristia nos mantém bem alimentados para o combate, fortalece nossa confiança na luta e, ao mesmo tempo, nos orienta no caminho, na corrida e na batalha, para que possamos chegar em grande forma diante de nossa linha de chegada.

Assim, a vida católica é como foi a vida de Paulo: um combate, uma corrida. Deus nos espera na linha de chegada de braços abertos para recebermos, como disse Paulo, “a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará”.

Portanto, vivamos com dedicação nossa vida em Deus e que possamos ao final desta jornada juntar, diante de Deus, as frases de Tomé e Paulo: “Meu Senhor e meu Deus!!! Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé”.

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