O homem e a Igreja, o mundo e a França

Melhor avisar: este artigo não pretende se somar a uma dezena de outros que analisaram as festividades das Olimpíadas de Paris. Contudo, me parece claro que há algo mais profundo que passou despercebido de quase todas essas análises, e há muito o que aprender a respeito do que está acontecendo.

Muitos ficaram chocados e podem ter se surpreendido com a tal abertura. Eu não. Infelizmente, não há muito o que se esperar de diferente da França atualmente. E isso não é apenas triste do ponto de vista desse país, mas do mundo como um todo.

A França, para nós, católicos, não é um país comum. Ao contrário, poderia ser motivo até mesmo de uma pontinha de inveja santa. Afinal, não foi o nosso país que foi chamado pelo próprio Deus de “filha primogênita”. Não foi no Brasil que Nossa Senhora fez três das mais importantes aparições da história, a primeira na mesma Paris das Olimpíadas.

Para a nossa plataforma de conteúdos, gravamos recentemente análises detalhadas dessas aparições e pudemos nos aprofundar nessa história. E as preocupações divinas com o futuro da França começaram há mais de 150 anos.

Em 1689, Santa Margarida Maria Alacoque teve uma aparição privada do Sagrado Coração de Jesus. Naquela ocasião, Deus pediu que o Rei da França, Luís XIV, consagrasse seu país ao Sagrado Coração e que colocasse na bandeira da França o seu brasão. Com isso, todos os males que se abateriam sobre aquele país poderiam ser evitados.

Pois é, fácil perceber hoje que ele não o fez.

Nas aparições de Maria do século XIX, sua mensagem está centrada nos desrespeitos que já se fazia contra Deus e sua Igreja. Em Paris, La Salette e Lourdes, avisa que se o homem não se converter, o castigo divino se abateria sobre ele.

Não adiantou: 31 anos depois de Lourdes, em 1889, a França virou sua página católica para sempre. Com a revolução francesa, com um discurso de liberdade, igualdade e fraternidade, abriu as portas para o humanismo moderno, tirando Deus do centro do mundo e colocando ali o próprio homem.

Como no Gênesis, o homem desejou ser como deus e como no Éden acabou apartado de Deus.

Passados todos estes anos, só quem está muito desatento não consegue notar que o iluminismo nos entregou a modernidade que projetou, mas não foi capaz de entregar o tal mundo melhor sem Deus que prometeu. Sabemos que nem poderia.

Como resultado, vemos, em todos os campos, o homem olhando para si, tentando entender-se sem conseguir. Confusos, estamos diante da maior crise de identidade que já vimos. Sem esperança, vemos os maiores índices de suicídio da história.

Até mesmo a nossa Igreja, imersa neste mundo perdido, sofre seus flagelos. Ela própria sofre nesta crise de identidade. Em muitos lugares, até mesmo aqui na Igreja de Cristo, o homem tenta substituir a Deus.

Se prestarmos bastante atenção, verificaremos que para entender a situação do homem, basta olhar para a Igreja. Para entender o mundo, olhem para a França.

As histórias que ouvimos de Paris nestes últimos dias foram de uma das cidades mais lindas do mundo em triste decadência, com o rio Sena repleto de sujeira e um espírito anticristão em todas as partes.

Parece um retrato claro, mas curiosamente despercebido do que nos tornamos. O mundo maravilhoso que Deus nos deu, em plena decadência pela influência do homem, as veias desse mundo repletos de sujeira e o espírito humano incapaz de ouvir a voz do seu Pastor.

Nenhum país se voltou tanto contra Deus como a França. Recentemente, celebrou com alegria humanista a aprovação do aborto como parte de sua constituição. Acima das leis, a constituição é como que o resumo dos valores fundamentais de um país.

Hoje, infelizmente, parece que é o inimigo de Deus quem pode dizer: “França, meu país preferido, minha filha primogênita.” Veja o que se tornou o berço de tantos Santos, de tantas graças. Pobre Paris.

É por isso que o que vemos não causa surpresas. Não se trata de um fato, mas de uma consequência.

Nesse ponto, o paralelo ao conto bíblico parece obrigatório. A França é como o rico filho que pede sua herança e abandona seu pai para se entregar aos prazeres do mundo. Atualmente, sem perceber ainda, o país se vê comendo com os porcos, passa fome e frio, pois nada restou da herança que recebeu.

A nós, resta rezar pelo mundo e pela França, para que logo possa acordar e acometer-se de um desejo de voltar ao pai como o filho pródigo. Temos certeza de que Deus a espera de braços abertos.

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