Participo de uma discussão com meus amigos mais próximos já há algum tempo, na qual a pergunta central é: Estaria o mundo pior do que antes ou está como sempre foi?
Quando defrontado diante desta questão, penso que estamos olhando para o lugar errado. Diante destas perguntas cada um tem uma opinião, não é possível se chegar uma conclusão.
Mas se olharmos com algum distanciamento, notaremos algo diferente. Todas as pessoas de bom senso hão de concordar que, independentemente do mal que exista no mundo, maior ou menor, nunca foi tão fácil percebê-lo.
Hoje, não falamos mais de um mal abstrato, aquele que opera nas sombras do mundo que intuímos que existia, mas de um mal objetivo e palpável. É possível apontar o dedo para ele quando vemos as injustiças, visões autoritárias, desejos de guerra e ódio, que vemos todos os dias onde quer que olhemos.
Mas por que uma parte significante das pessoas não consegue notar isso? E a resposta é também direta: Porque lhes falta um olhar sobrenatural sobre essas coisas.
O mundo material, este sim, continua mais ou menos o mesmo. Ricos, pobres. Sucesso e fracasso. Poderosos e oprimidos. Isso tudo sempre existiu como hoje, afinal o príncipe desse mundo não mudou, continua o mesmo.
Mas se colocarmos na frente de nossos olhos as lentes da fé, que nos permitem ver o mundo com o olhar sobrenatural, a conversa muda de figura. Se essas lentes nos permitiram perceber o mal desde sempre, agora nos permitem enxergá-lo com uma clareza totalmente nova, e essa me parece a grande diferença.
É por isso que as nossas igrejas estão tão cheias. Como catequista há muitos anos, posso atestar que a quantidade e qualidade das conversões são bastante diferentes do que há 10 ou 15 anos atrás. O desejo pela aproximação de Deus é patente.
Pessoas de todas as estirpes estão se voltando para Deus porque mesmo aqueles míopes da visão sobrenatural já são capazes de enxergar o mal no mundo. Esse movimento é a resposta de quem desejar voltar a enxergar tudo com a clareza que só o Espírito Santo é capaz de oferecer.
Mas essa separação clara do bem e do mal não nos é uma surpresa, Jesus nos alertou sobre isso quando falou do joio e do trigo.
Na parábola do Joio e do Trigo, Jesus sugere que é necessário deixar o joio crescer junto com o trigo até o tempo da colheita. Será na hora da colheita que o joio deve ser identificado para ser arrancado antes de ser colhido o trigo.
O joio representa os maus, e o trigo os justos. Durante muito tempo, eles haveriam de conviver e, por sua semelhança, seria muito difícil saber dizer quem é quem.
Perto do tempo da colheita, ficaria mais fácil de identificá-los ao ponto que o ceifador saberia, sem sombra de dúvidas, arrancar o joio separando-o do trigo.
Assim, sabemos que eles seriam separados em algum momento, e creio que é justamente isso que estamos notando. O trigo vai se ajuntando de um lado, enquanto o joio vai se opondo do outro.
Isso nos leva a uma outra pergunta: se estivermos certos, seria isso um sinal de que o tempo da colheita está próximo?
Bem, a resposta católica é: “Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai.”. (Mt 24, 36).
Mas Jesus também nos lista uma série de situações que haveriam de ocorrer no decorrer da história. Previu guerras, tumultos, nação contra nação, fome, pestes e fenômenos naturais. Aqui vale ler o capítulo 21 do Evangelho de Lucas.
Mais ao final, no versículo 28, Jesus dispara: “Quando começarem a acontecer essas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças; porque se aproxima a vossa libertação.” (Lc 21,28)
Quando medito sobre essas coisas gosto, particularmente, de duas outras passagens. A primeira que parece antecipar a loucura das ideologias que vemos hoje: “Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas” (II Timóteo, 4,3-4).
E uma segunda, que mostra que os maus não apenas viverão no pecado, mas que irão jactar-se de suas vidas, de suas benesses e da perseguição aos justos. “Sabei, antes de tudo, o seguinte: nos últimos tempos virão escarnecedores cheios de zombaria, que viverão segundo as suas próprias concupiscências” (II São Pedro, 3-3).
Mas o que fazer? Para nós, basta estarmos atentos com a continuação da primeira passagem que pede para sermos prudentes e pacientes nos sofrimentos. Em tudo vivamos na Verdade para quando chegar essa hora, estejamos separados no lado do trigo.