Tenho trabalhado na catequese de adultos pelos últimos 16 anos. É uma experiência muito enriquecedora, parece que podemos tocar o mundo, a Igreja e o povo de Deus a distância, e as mudanças são muitas.
Interessante observar essas mudanças pelo lado de dentro, o das aulas, percebendo o que falamos, como os alunos reagem, e como eles saem ao final do curso. Lembro que, nos primeiros anos, era muito mais difícil explicar a respeito do relativismo e do afastamento do mundo para com Deus. Alguns reagiam como se fosse uma teoria conspiratória, o mundo que percebiam parecia não estar tão ruim assim.
Hoje, bem ao contrário, todos têm uma história para contar a esse respeito. Todos concordam com a presença do mal no mundo, como vemos todos os dias nas notícias e nas redes sociais.
A conclusão geral, diferente de como era antes, é de que o mundo anda realmente mal, bem mal. Que há sim como que um mantra para nos afastar de Deus, e que só não percebem os que estão muito ocupados com seus próprios afazeres.
Costumamos fazer uma enquete na primeira aula e praticamente todos indicam que se sentem de alguma forma oprimidos pelo mundo, e que procuram respostas que esse mundo não pode lhes dar. Nas perguntas que enfrentamos durante as quase 20 aulas, uma constante recente é sobre a situação da Igreja, mais notada com a maior presença da Igreja e de padres nas redes sociais.
Muitos nos perguntam sobre as diferentes interpretações do Evangelho, das abordagens do padre X ou do padre Y. E nos pedem para harmonizar a catequese e o que se vê na TV e nos noticiários.
Mas a mudança mais relevante que vemos está realmente nos catecúmenos. Não apenas porque o número aumentou bastante, mas principalmente pelo perfil e comportamento deles.
Se, antes, muitos vinham por força de uma necessidade “operacional” de batizar-se para se casar, ou crismar porque era o sacramento que “faltava”, hoje vemos uma busca para encontrar a verdade.
A maioria diz que foi ao curso por uma necessidade de aproximar-se de Deus, de conhecer mais. Apesar dos desejos profundos, a maioria não consegue expressar uma razão objetiva.
As alavancas são na maioria abstratas como: ouvi uma homilia na internet e senti que precisava saber mais. Senti um vazio e um colega de trabalho me falou sobre o curso, e assim por diante. Apesar das diferenças, todos se sentem empurrados por uma necessidade interior. Talvez por esse motivo, a forma com que os alunos se comportam também mudou. Agora o tema da “busca pela santidade” navega com bastante facilidade, quando antes parecia uma conversa demasiado elevada, segundo diziam.
Dar aula, portanto, ficou mais fácil e mais difícil: mais fácil não apenas pelo maior interesse dos alunos, mas porque há uma sede real pela verdade que somente a catequese “raiz” pode oferecer; e mais difícil porque nessa sede, ninguém se contenta com explicações sem um bom fundamento. Além do fundamento, essa sede é saciada pelo verdadeiro amor pela Verdade que é Cristo, afinal é Ele a quem precisam encontrar.
Mas afinal, o que está acontecendo?
Há quem diga que o mundo vai mal justamente porque a Igreja não está em seus melhores dias. É como os filhos que ficam sem saber o que fazer enquanto os pais discutem. Acabam perdidos, esperando o momento em que voltarão a ser orientados.
Mas, então, por que os alunos não parecem perdidos? Aqui acho que vale parar um instante.
A impressão que temos é de que, diante disso, Deus vem, ao seu estilo silencioso, agindo por meio de sua graça no mundo. Se não conseguimos mapear as ações que fizeram os alunos chegarem até ali, parece haver um motivo único para todos. O desejo incontrolável de encontrar-se com a Verdade.
Nunca vimos pessoas tão desejosas de saber mais a respeito desse Deus, e o Espírito Santo em Sua ação vai aprofundando esse desejo de forma surpreendente. Se, antes, nos perguntavam sobre os meios de salvação (o que já seria bastante), somos agora questionados sobre os meios para alcançar a santidade ainda nesta vida.
E, é claro, não podemos dar crédito algum aos fatores humanos, seja a aula, o instrutor, a apostila ou o método de ensinar, que são os mesmos desde sempre.
Como catequistas, isso alimenta algumas certezas: a de que Deus nunca abandona os seus amados e que o desejo pela Verdade está inquestionavelmente implantado no seio do ser humano, e é justamente aí que reside a esperança neste mundo imerso no pecado, que nunca precisou tanto de Deus.
E não seria a primeira vez que Deus viria em nosso socorro, como percebeu Paulo; afinal “onde abundou o pecado, superabundou a graça!”.