Ser pai é um presente que Deus nos preparou

No mês de agosto, comemoramos o Dia dos Pais. Talvez o leitor não saiba, mas sou pai de três meninos, ainda crianças. De fato, para nós, é um dia muito especial de muito amor e sinal de várias conquistas.

Nesses dias, nos grupos de mensagens de pais e amigos, acabam saindo muitos comentários. Contudo, um que sempre vejo aqui e ali e que me incomoda bastante é este:

“Nós não fomos preparados para ser pais!” Como não?

Eu, por exemplo, fui preparado por cerca de 30 anos para ser pai. Durante este tempo, eu fui filho de meu pai, que morreu bastante jovem, aos seus 60 anos. Muitos dos que dizem esta frase foram filhos por muito mais tempo do que eu ou ainda o são nos dias de hoje.

Além disso, para nós, católicos, temos ainda muitos exemplos da fé e nas escrituras. Na criação, Deus cria a família, para Abrão a promessa de ser “pai” de uma multidão e mais adiante, Deus, que é Pai, nos envia seu Filho para nos ensinar: “Qual de vocês, se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se pedir peixe, lhe dará uma cobra? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!” (Mt 7,9-11).

E como Deus é bom com os pais!

Batizados, somos incorporados na paternidade divina e durante boa parte de nossas vidas, Deus nos prepara de várias formas. A partir de nossa pequenez, somos criados olhando para cima, vislumbrando a paternidade pela ótica do filho. Como objetos da paternidade de outro, aprendemos na própria pele os acertos, os erros, as graças e a grandiosidade da paternidade. Qual melhor forma de aprender, do que desejar, desde cedo, sermos como nossos pais?

Mas o mundo não gosta da família, não gosta da criação, não gosta da paternidade. A família se tornou uma aberração que precisa ser destruída e a paternidade virou o “patriarcado”, como uma maldição que desgraça o mundo e que deve ser tratada como uma doença que corrompe o tecido social.

A criação, por sua vez, foi um grande erro. Deus ordenou “crescei e multiplicai”, e sobre toda a criação disse “submetei-a”. Mas o mundo acha que “já tem gente demais” e que população precisa diminuir. O “Deus mau” criou o mundo e nos deu uma ordem suicida. Se fizermos o que Ele nos pediu, multiplicar-nos, morreremos de fome, pois iria faltar recursos no mundo que Ele mesmo nos deu.

O homem, a grande obra da criação, para quem Deus tudo criou, virou a “erva daninha”, o “grande gafanhoto” que Deus colocou neste mundo e que precisa ser combatido. Matemos o homem, para salvar o mundo!

Na sua arrogância, como no pecado original, o homem continua agindo “como deuses”. Na sua visão decaída, prega que o mundo vai mal por um erro, um projeto malfeito, e não pelo pecado do homem. A falta de recursos não se dá pela ganância dos que concentram riquezas enquanto outros morrem de fome. Os que causam o mal do mundo querem corrigi-lo.

Por isso, somos bombardeados com ideologias que querem nos fazer crer que ser pai é algo ruim, custoso, trabalhoso. Trata-se de uma missão impossível, para a qual “nem sequer fomos preparados”, o que nos leva de volta à citação inicial e faz entender melhor meu incômodo.

Se continuarmos assim, entrando no encantamento da doutrina do mundo, em pouco tempo nos restará apenas ser “pais de pet”, uma proposta de substituição barata, para dizer o mínimo, e que, por isso, merece um texto próprio.

O próprio Jesus disse bem: “Estamos no mundo, mas não somos do mundo!”. Assim, nunca nos esqueçamos: Deus nos desejou desde sempre. Sonhou com nossa paternidade e nos preparou desde a eternidade para isso. O Deus que é pai nos mostrou o maior amor que um pai pode ter, dando o seu próprio Filho em sacrifício por nós. E, sabedor de nossas fraquezas, nos envia hoje, e sempre que precisamos, o Espírito Santo para nos inspirar.

Tenhamos, pois, um “orgulho santo” de nossa paternidade, e a executemos com a mestria com que formos preparados. Ninguém melhor do que nós para desempenhar este papel. Não há um pagão neste mundo que tenha os recursos infinitos de graça e sabedoria que nós, cristãos, temos à nossa disposição.

Batizados e enviados como sal da terra e luz do mundo, sejamos testemunho vivo das lindas realidades da família e da paternidade. Diante de uma nova paternidade, que nossa mensagem não seja a clássica “você não vai mais dormir”, mas uma inspiração “é a maior graça que alguém pode receber”.

Para os pais, parafraseio Dom Bosco ao se referir à vida eterna: “Eu não disse que ia ser fácil, mas que valeria a pena!”.

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários