Comunidade compassiva e cuidados paliativos

Cuidado paliativo é uma abordagem médica e de apoio que visa a melhorar a qualidade de vida de pessoas com doenças graves, aliviando sintomas e sofrimento, muitas vezes em casos terminais. No segundo sábado de outubro se comemora o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos e a grande importância da data é divulgar sua existência e necessidade, além de conscientizar as pessoas sobre essa forma de cuidar tão próxima do ser humano e tão essencial àquele que sofre.

O tema deste ano é “Comunidades compassivas – Juntos por Cuidados Paliativos”, essencial no mundo atual, tão distante da compaixão, da ajuda ao próximo, da valorização da vida, tornando ainda mais especial essa divulgação, pois haveremos, pelo bem comum, de ser um alguém empático, dotado de compaixão e misericórdia para aquele que sofre e, especialmente, aos que se aproximam do final da vida.

A comunidade compassiva é aquela que reconhece os ciclos naturais da doença e saúde, nascimento e morte, amor e perda que ocorre todos os dias no cotidiano de uma comunidade, que procura identificar o sofrimento e as situações de adversidades das pessoas com doenças avançadas e em fim de vida inseridas na comunidade, promovendo a ideia de que a saúde é responsabilidade de todos, não só dos serviços de saúde. Empoderar a comunidade no cuidado paliativo traduz-se num aumento da qualidade de vida dos seus membros que vivem nas situações de grande vulnerabilidade e sofrimento.

E esse conceito não é moderno, já nos sendo trazido por meio dos Evangelhos segundo Mateus e Lucas. “Pois eu estava com fome, e vocês me deram comida; estava com sede, e me deram água; era estrangeiro, e me receberam nas suas casas; estava sem roupa, e me vestiram; estava doente, e cuidaram de mim; estava na prisão, e foram me visitar. Então, os bons perguntarão – Senhor, quando foi que o vimos com fome e lhe demos comida ou com sede e lhe demos água? Quando foi que o vimos, Senhor, como estrangeiro e o recebemos em nossas casas ou sem roupa e o vestimos? Quando foi que o vimos, Senhor, doente ou na prisão e fomos visitá-lo? Ai, o Rei responderá – Eu afirmo que quando fizeram ao mais humilde dos meus irmãos, de fato foi a mim que fizeram” (Mt 25,34-40). “Mas um samaritano, estando em viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois, colocou sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele” (Lc 10,30-37).

E quem é mais humilde do que aquele que sofre na doença grave ou na proximidade da morte? E que perfeita a oportunidade de sermos compassivos e o bom samaritano àquele humilde e que, ao nosso lado, precisa de ajuda, mas como comunidade não estamos despertos para ele.

O cuidado paliativo “requer identificação precoce, avaliação e tratamento impecável da dor e outras situações de natureza física, psicossocial e espiritual”, no entendimento da Organização Mundial da Saúde.

Pensemos nos dois evangelhos e nas definições de comunidade compassiva descritos acima, e associemos à imagem dos Médicos Sem Fronteiras ou das irmãs da ordem de Madre Teresa de Calcutá, que em diversas partes do mundo, nas mais extremas condições de miséria, sofrimento, necessidade, pobreza, carência, se mostram e se fazem humildes, tornando-se a comunidade compassiva para tantos que têm tão pouco e que, recebendo a solidariedade desses bons samaritanos, podem descobrir o amor, o cuidado, a empatia, o bom que é ter o sofrimento aliviado e, quem sabe talvez, possam descobrir um sentido para a vida.

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